Não se iluda, a direita vai se agrupar

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado

Há uma falsa e perigosa impressão em certos círculos progressistas sobre a perspectiva da direita para a eleição presidencial de outubro. Baseando-se nas atuais taxas ridículas de intenção de voto dos candidatos apresentados até agora por ela, alguns imaginam que esse quadro vai persistir. Não é o que vai ocorrer, ensina a História.




Primeiro é preciso delimitar campos. Por direita, ou direita tradicional, entende-se o que a grande mídia falsamente chama de “centro” e que é na verdade o conservadorismo convencional, de Alckmin, Meirelles, Maia, Temer, Álvaro Dias e outros anões eleitorais. Não é a extrema-direita fascista de Bolsonaro e Flávio Rocha.

O drama dessa direita, concedamos, cordata é que Bolsonaro, sem crescer mais mas inabalável em seus 20%, até agora impede o crescimento dos nomes lançados naquele espectro político. Na verdade, está ficando claro que havia um eleitorado de extrema-direita que estava alojado temporariamente no PSDB enquanto não havia um porta-voz como Bolsonaro para explicitar seu viés fascista.

A direita terá que destruir Bolsonaro para “limpar a área” e terá meios para isso. Não se surpreendam se os grandes veículos de comunicação, Organizações Globo no comando, comecem proximamente a bombardear o milico. Bolsonaro não é o candidato dos sonhos da elite econômica, por uma série de motivos que não interessa aqui.

A questão, ironicamente, é que os responsáveis pelo surgimento do ambiente retrógrado terão agora que combater a cria. Existe uma descrença nos meios empresariais sobre as chances de Alckmin, aquele que em tese mais agrada ao mercado e com mais musculatura partidária. Esse ceticismo explica a procura e balões de ensaio sobre nomes como Luciano Huck, Joaquim Barbosa, João Doria (uma carta na manga ainda, embora enfraquecida).

Na verdade, ninguém sabe quem se filiou a algum partido até a data-limite. Podem ainda surgir surpresas, mas o tempo conspira contra a possibilidade. Existe mesmo, infelizmente, um clima em parte relevante da sociedade de aversão à Política e de procura por um “novo” perigoso. Esse ambiente já elegeu Collor no passado mais ou menos recente e a fraude Doria em São Paulo, em 2016.

Atualmente, o engodo da Lava Jato contribui para o asco aos partidos e seus representantes. Se não surgir alguém de fora dos quadros tradicionais, porém, é um engano imaginar que os donos do dinheiro não investirão e forçarão a unidade em torno de um candidato já lançado pela direita. Não devemos esquecer nunca que a campanha em 2018 terá características diferentes. Será mais curta, o que em tese favorece os nomes mais conhecidos, e permite doações pessoais, o que ajuda quem tem mais recursos.

Com Lula fora do páreo (seria eleito com o pé nas costas) pelo tapetão do golpe, é delírio político grave achar que a direita ficará fora de um segundo turno. É inclusive irreal pensar nisso pela distribuição de forças políticas no Brasil. As esquerdas não são hoje majoritárias e é preciso compreender que Lula é um fenômeno, tanto que é em seu nome que gravitam todas as análises sobre outubro, mesmo ele encarcerado em Curitiba.

Lula é maior do que as esquerdas somadas no imaginário popular. Em suma, é possível sim colocar um candidato progressista no segundo turno e vencer a disputa, mas não vai rolar um WO. O que é necessário é juízo nas esquerdas, o que nem sempre está aparecendo, e uma análise realista do quadro. Como força hegemônica no campo popular, o resultado da próxima eleição presidencial passa pelo PT e por Lula, principalmente por ele.

O ex-presidente é um intuitivo espetacular, que sabe como ninguém enxergar a alma do povo. É torcer pelo acerto nas decisões, mas sem se iludir que o caminho será fácil. Aliás, nunca foi.

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