Júnior é um taxista na capital paulista. Casado, 38 anos, pai de um garoto de oito, Júnior batalha no dia-a-dia por uma vida melhor. Vida que, segundo ele, melhorou muito nestes 12 anos, o que correspondem aos últimos três mandatos presidenciais, de Lula e Dilma.
Em seu táxi, Júnior ouve de histórias escabrosas a deliciosas. Mais a primeira do que a segunda. Principalmente quando se trata de política.
Na capital, como Júnior trabalha mais na região dos Jardins e Zona Sul, o seu passageiro ou passageira, demonstra, na maioria das vezes, preconceito com os mais pobres, nordestinos e negros. O que muito magoa Júnior, vindo de uma família pobre da Bahia.
“Tem dia que dá vontade de pedir para o passageiro descer antes de seu destino, em razão de tanta coisa raivosa que fala”, afirma o motorista.
Outro dia, Júnior recebeu no carro uma senhora beirando os 60 anos. Nem entrou, ela já passou a falar mal de Dilma e Lula. O taxista perguntou a razão de tanta aversão e a senhora contou:
“Minha empregada, por causa destes dois, agora quer carteira registrada. Onde já se viu? Ah, e também resolveu estudar. Onde vamos parar?”
Júnior lembrou à senhora que ele, um taxista como ela podia perceber, também contava com uma moça que trabalhava na sua casa e ela tinha carteira profissional registrada.
– Está vendo só? Que absurdo? O senhor, um taxista, tem empregada doméstica e, ainda por cima, com carteira registrada! Onde vamos parar?
Júnior respondeu, calmamente: “Minha senhora, vamos parar no local que a senhora solicitou. Agora, sobre a empregada doméstica, como a senhora, que é contra, fará para contratar se elas estão exigindo registro em carteira?
– Simples. Já pensei nisso. Está cheio de bolivianas e haitianas por aí. Vou pegar uma destas…
Silêncio no carro, com Júnior só pensando: “Onde vamos parar?”