Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

O poço não tem fim. Alguém civilizado que tivesse um mínimo de informação sabia que um governo comandado por Jair Bolsonaro seria pródigo em retrocessos e bizarrices. Mas a realidade está confirmando a máxima do “tudo que é ruim pode piorar”. O que o Brasil está vivendo é um show de horrores que expõe o País ao caricato nas relações entre Nações.

É impensável que em qualquer país sério do mundo um astrólogo boca suja como Olavo de Carvalho possa ser guru de algum governo. Um de seus discípulos foi escalado para acabar com o que resta da Educação brasileira. O MEC hoje é um escombro habitado por tarados ideológicos.

Mas a loucura ali tem método. Por trás do discurso mentiroso de “uma Educação sem ideologia”, o que se pretende é incutir nas crianças os valores fascistas, formar uma geração de futuros trogloditas. Por isso, para quem conhece a História, aquela barbaridade de submeter estudantes a uma papagaiada ideológica (de extrema-direita) e depois filmá-las lembrou muito o que ocorreu na Alemanha nazista nas décadas de 30 e 40. Sem exagero algum.

Enquanto fascistas do time A enfrentam os fascistas do time B na Educação, o astrólogo boca suja levou para o Itamaraty um tarado ideológico que transformou o Brasil em chacota internacional. O “Arnesto” que combinaria mais trajando uma camisa de força do que um terno é um caso típico da necessidade de se exigir exame de sanidade mental para funções governamentais importantes. O demente das Relações Exteriores, se solto, vai causar, além das trapalhadas políticas internacionais, enormes prejuízos para a nossa economia.

Com um quadro desses, aguçado pela presença dos três filhos limítrofes no poder e pelo namoro com personagens como o trapaceiro americano Bannon, está explicitada a possibilidade de Bolsonaro não chegar ao fim de seu mandato e ser substituído por Mourão, ou seja, troca-se o 6 por meia dúzia.

A tarefa tem, porém, um complicador. O atual presidente da República ainda é um líder popular necessário na tarefa de enganar a população para “vender” as reformas, principalmente a da Previdência. Aí está a chave desse jogo. Se não conseguir entregar a mudança das aposentadorias para o mercado, Bolsonaro cai em pouco tempo. Como? Não se esqueça que o armário do clã presidencial é repleto e nosso Judiciário age, faz tempo, de acordo com os interesses da elite.

Bolsonaro sem a reforma da Previdência torna-se um pato manco à espera de uma saída. Os patrocinadores do atual desgoverno irão tentar com o falso cordeiro general Mourão o que não conseguiram com o capitão, isso sempre na hipótese de Bolsonaro não entregar ao mercado a encomenda exigida.

Se entregar, o milico fascista ganha um respiro, mas ninguém pode assegurar que algum escândalo fira a popularidade dele. A evidente ligação do clã Bolsonaro com as milícias que atuam no Rio de Janeiro é o caminho mais lógico para a eclosão de fato que possa corroer a imagem do presidente da República. Não é à toa que Mourão tenta construir a falsa imagem de cordato no meio dos ogros.

Em qualquer hipótese, as forças progressistas não podem alimentar ilusões. Na essência, ou seja, na intenção de liquidar direitos sociais e de entregar patrimônio brasileiro ao capital internacional, Bolsonaro e Mourão não têm diferenças. Que briguem entre si, sem a participação de ingênuos das esquerdas.

É muito triste, sim, testemunhar a desgraça brasileira. Querem espetar uma conta a mais no lombo de pobres e miseráveis. O que se vive no país hoje é um cenário inimaginável há pouco tempo. Não dá mais para aceitar a bobagem de “oposição construtiva” ou “responsável”.

A única postura diante da destruição inédita do Brasil é uma oposição sistemática e sem trégua aos primitivos do poder. Se renunciarmos à disputa nas ruas estaremos aceitando que o Brasil virou uma colônia de quinta categoria. É isso que eles querem e nós não aceitamos.