“O que o Fantástico fez com Lula foi uma tramoia”, diz o jornalista, lembrando o papel da Globo na ascensão de Bolsonaro
O jornalista Luís Nassif fez duras críticas à entrevista exclusiva concedida pelo presidente Lula ao programa Fantástico, da Rede Globo, no último domingo (15), quando o petista teve alta hospitalar após ter passado por uma cirurgia para conter uma hemorragia intracraniana. Na visão de Nassif, “o que o Fantástico fez com ele foi uma tramoia. Deram uma rasteira.”
Durante a apresentação do programa TV GGN 20 Horas na noite de segunda (16), Nassif comentou a razão pela qual Lula aceitou falar ao Fantástico, mesmo sabendo que a Rede Globo, em diversas ocasiões, se apresenta como um veículo hostil ao petista e seus governos. Segundo Nassif, a estratégia de Lula é ser “aceito pelo sistema” e, por isso, prioriza meios de comunicação tradicionais e de massa.
“Lula sabe que ele é o único que garante a solidez da democracia. Lula não é revolucionários nem um desenvolvimentista. Ele quer manter o status quo e abrir brechas para políticas compensatórias. (…) Dentro dessa lógica, ele foge dos veículos de mídia alternativa. Está certo, tem que dar entrevista para veículos de grande alcance. Mas decide dar essa entrevista para o Fantástico, em que foi apunhalado…”
Na entrevista, Lula falou da queda que sofreu no banheiro e da hemorragia decorrente do acidente doméstico. Passada a conversa sobre seu estado de saúde, a jornalista Sônia Bridi, escalada para entrevistar o presidente para o Fantástico, questionou se Lula acompanhou o noticiário enquanto estava internado. Lula respondeu que sim e citou a prisão do general Walter Braga Netto pela participação no plano de golpe de 2022, para manter Jair Bolsonaro no poder.
Lula disse que deseja a Braga Netto o que ele não teve quando foi julgado na Lava Jato: amplo direito de defesa. Bridi rebateu usando um argumento exaustivamente utilizado por lavajatistas para defender o caso triplex contra Lula: que o caso foi julgado em três instâncias e a sentença, mantida.
Quando Lula insistiu que não teve direito à defesa, o Fantástico adicionou informações lembrando sua trajetória na Lava Jato: preso após condenação em segunda instância; solto após o Supremo Tribunal Federal determinar que cumprimento de pena deve acontecer após o trânsito em julgado. Mais tarde, o caso triplex foi anulado pelo STF por incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba e, depois, Sergio Moro foi declarado um juiz parcial nos processos contra Lula.
Falsificação da história
Para Nassif, o Fantástico fez uma “falsificação da história”. “Lula disse que foi preso sem defesa, e Globo mostra que foi condenado em primeira, segunda e terceira instância. Mente, porque não contar toda a verdade, é mentir. Ela não coloca, por exemplo, que não se analisa provas na terceira instância. E que existe um relatório do Conselho Nacional de Justiça, do ministro Luís Felipe Salomão, mostrando a cumplicidade da 8ª turma do TRF-4 – segunda instância – com o Sergio Moro.”
Nassif lembrou do conluio que existiu entre magistrados e procuradores na Lava Jato para condenar Lula, além do papel da própria Globo na aniquilação da presunção de inocência do presidente. As denúncias esdrúxulas colavam “por causa da Globo e da onda que a emissora fez, transformando os membros da Lava Jato em heróis nacionais. Aquilo condicionou toda a opinião pública”, pontuou Nassif.
Ao servir de correia de transmissão para os interesses da Lava Jato, Globo ajudou a tirar Lula das eleições de 2018 e, como consequência, elegeu Jair Bolsonaro para o comando do País. Com ele, penetrou no poder “um pessoal que estava planejando assassinato de autoridades! E vem o Fantástico e faz essa falsificação da história, alimentando as hostes bolsonaristas. Com qual intenção?”, indagou Nassif.
“O Globo, até hoje, não fez uma autocrítica sobre a Lava Jato. O Globo tinha repórteres que atuavam como consultores [para os procuradores]. Foram cúmplices, no anti-jornalismo mais brutal da moderna história brasileira! E agora fazem isso com uma pessoa recém operada. Não sei quem foi que teve a ideia brilhante de dar uma entrevista para o Fantástico e ser vítima de uma facada pelas costas. É de uma ingenuidade… Quem acerta uma entrevista como essa sem definir as regras do jogo?”
Na opinião de Nassif, a edição da Globo esconde segundas intenções. “Não sei o que pretendem. Talvez desmoralizar o governo, num momento em que se chega a um ponte de corte fantástico na história, que é finalmente a Justiça enquadrando conspiradores, pessoas que estavam planejando assassinato de autoridades.”
Além de resgatar a memória da Lava Jato, o programa Fantástico também fez perguntas sobre economia e política ao presidente, sempre em tom de crítica. Leia mais aqui.