Nelsão, capitão calmaria

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De Paulo Frateschi, compartilhado do site da Fundação Perseu Abramo – 

No meu álbum o Nelsão será sempre uma figurinha carimbada. Muito especial, um craque. Jovem ainda, fundou e dirigiu o COE (Centro de Orientação Estudantil), uma escola muito especial que foi um marco na resistência à ditadura. Referência para a esquerda, tornou-se um espaço para as oposições sindicais, movimentos culturais e diversas correntes. O DOI-CODI invadiu por duas vezes esse centro de orientação estudantil, em 1973 e em 1977, até que conseguiu fechá-lo.

Nelson participava das manifestações de protesto contra a ditadura. Sempre muito decidido e corajoso, dava guarida para quem saía da cadeia. Nelson cuidava dos perseguidos como sempre cuidou de mim. Para ele, Libelu e Refazenda, MUP ou Moap, Monsp ou Frente Nacional do Trabalho, todos tinham que ter espaço e eram respeitados por ele na disputa política.




Nelson Frateschi Filho foi professor da rede pública estadual e foi militante na construção da oposição na Apeoesp, que resultou em vitória no fim da década de 1970. Também participou da fundação do PT, tanto nas articulações políticas como na coleta de assinaturas, de casa em casa, de escola em escola, para viabilizar nossa legalização.

Com a vitória eleitoral em 1988, a prefeita Luiza Erundina o convocou para a Administração Regional da Lapa: bairro onde Nelson nasceu, cresceu e militou. E foi aí que ele inovou e fez a diferença, com uma capacidade imensa de diálogo com todos os setores, mas sempre do lado do povo. Luiza o considerava muito e lhe designou outras tarefas na área de limpeza e manutenção, o que proporcionou a ele contato com administradores, secretários e dirigentes que reconheceram seu trabalho e gostam dele até hoje.

A última vez que dividimos uma tarefa foi quando Lula saindo da cadeia esteve em Paraty, e ele ajudou a organizar a ida do presidente ao Quilombo do Campinho. Meu querido irmão tinha uma capacidade enorme de cativar e juntar pessoas. Como Galileu, era físico, gostava da ciência e dos prazeres da vida. Nunca abjurou, mas era um craque em ludibriar os opressores.

Nelson festejou nossos avanços democráticos e populares e não estava no seu horizonte ser vítima de um governo necrófilo fascinado pela destruição.

Nelsão gostava do mar e de velejar. Eu o chamava de capitão calmaria. Enfrentou tempestades e nunca contou com vento a favor.

Dedicado a Flora, Rodrigo, Juliana, Angelo, Luana, Vito, Anita e Luca.

Com uma tristeza profunda.

Paulo Frateschi

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