Redação: O blog não tem por hábito publicar artigos provindos dos chamados “jornalões”, mas este artigo do ex-ministro Nelson Jobim tem postagem necessária.
Nelson Jobim, que não tem nada a ver com o PT e com a esquerda, mostra aqui para os incautos as consequências da perseguição.
Publicado em Zero Hora –
Jurista, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal
É pergunta recorrente. Ouvi em palestras, festas, bares, encontros casuais, etc. Alguns complementam: “Foste Ministro de Lula e da Dilma, tens que saber…” Não perguntam qual conduta de Lula seria delituosa. Nem mesmo perguntam sobre ser, ou não, culpado.
Eles têm como certo a ocorrência do delito, sem descreve-lo. Pergunto do que se está falando. A resposta é genérica: é a Lava-Jato. Pergunto sobre quais são os fatos e os processos judiciais. Quais as acusações? Nada sobre fatos, acusações e processos. Alguns referem-se, por alto, ao Sítio de … (não sabem onde se localiza), ao apartamento do Guarujá, às afirmações do ex-Senador Delcidio Amaral, à Petrobrás, ao PT…
Sobre o ex-Senador dizem que ele teria dito algo que não lembram. E completam: “está na cara que tem que ser preso”. Dos fatos não descritos e, mesmo, desconhecidos, e da culpa afirmada em abstrato se segue a indignação por Lula não ter sido, ainda, preso!
[Lembro da ironia de J.L. Borges: “Mas não vamos falar sobre fatos. Ninguém se importa com os fatos. Eles são meros pontos de partida para a invenção e o raciocínio”.]
Tal indignação, para alguns, verte-se em espanto e raiva, ao mencionarem pesquisas eleitorais, para 2018, em que Lula aparece em primeiro lugar. Dizem: “Essa gente é maluca; esse país não dá…” Qual a origem dessa dispensa de descrição e apuração de fatos? Por que a desnecessidade de uma sentença? Por que a presunção absoluta e certa da culpa? Por que tal certeza?
Especulo. Uns, de um facciosismo raivoso, intransigente, esterilizador da razão, dizem que a Justiça deve ser feita com antecipação. Sem saber, relacionam e, mesmo, identificam Justiça com Vingança. Querem penas radicais e se deliciam com as midiáticas conduções coercitivas. Orgulham-se com o histerismo de suas paixões ou ódios. Lutam por “uma verdade” e não “pela verdade”.
Alguns, porque olham 2018, esperam por uma condenação rápida, que torne Lula inelegível. Outros, simplesmente são meros espectadores. Nada é com eles. Entre estes, tem os que não concordam com o atropelo, mas não se manifestam. Parecem sensíveis à uma “patrulha”, que decorre da exaltação das emoções, sabotadora da razão e das garantias constitucionais.
Ora, o delito é um atentado à vida coletiva. Exige repressão. Mas, tanto é usurpação impedir a repressão do delito, como o é o desprezo às garantias individuais. A tolerância e o diálogo são uma exigência da democracia – asseguram o convívio.
Nietzsche está certo: As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.