Feriado de Tiradentes, fui com a minha companheira Carmola à padaria perto de casa, no bairro de classe média alta de Perdizes, capital paulista. Fiquei no carro enquanto ela entrava no estabelecimento. Acionei o Whatsapp. Lá, entre muitas mensagens recebi uma do amigo Wagner Lima, sobre a história comovente de uma música dos Estados Unidos. Ouvindo, me transportei aos meus 11 anos, pois a música era daquelas de bailinho de 1969, “He ain’t heavy, he is my brother”, do grupo The Hollies.
Quando a Carmola voltou, estava no meio da música e comecei a contar para ela a história atribuída à mesma: “Dizem que o fato que inspirou essa canção foi o seguinte: certa noite, em uma forte nevasca, na sede de um orfanato em Washington, um padre ouviu alguém bater na porta. Ao abri-la, deparou-se com um menino coberto de neve, com poucas roupas, trazendo em suas costas, um outro menino mais novo. A fome estampada no rosto , o frio e a miséria dos dois comoveram o padre, que mandou-os entrar e exclamou: “Ele deve ser muito pesado”. O menino disse: “Ele não pesa, ele é meu irmão. (He ain’t heavy, he is my brother) Não eram irmãos de sangue realmente. Eram irmãos de rua.
O autor da música soube do caso e se inspirou para compô-la. E da frase fez-se o refrão. Esses dois meninos, foram adotados pela instituição.”Missão dos Órfãos”, em Washington.”
Contando a metade da história, no carro, a caminho de casa vimos um pequeno aglomerado de pessoas e alguém no chão, coberto por um plástico azul. Fiquei curioso, deixei minha companheira na porta do prédio e voltei ao local.
Lá, soube que a empregada doméstica Renilda, de 53 anos, teve um ataque epilético. Na sua companhia, a irmão Tania, de 61 anos, que amparou quando começou a passar mal.
Nisso, algumas pessoas que passavam na rua, socorreram. Chamram o Samu. O senhor René ficou o tempo todo com a moça que estava no chão e a irmã, na companhia de outras pessoas. Este senhor, emocionado, ficou tenso e teve taquicardia, mas só foi embora quando Renilda foi colocada na ambulância.
A irmã Tania, contava que moram no bairro do Piqueri, ´periferia de São Paulo, e que são em 18 irmãos, 10 homens e oito mulheres. Muito emocionada agradecia a todos pela solidariedade, que o lugar comum diz que só acontece em bairros pobres.
A história da música do amigo de rua carregando o outro nas costas e a ação de René e outros moradores de Perdizes me emocionaram. Pela coincidência de estar contando um fato e presenciar outro ao mesmo tempo. A emoção veio também ao constatar que neste mundo tão egoísta, ainda há espaço para muita solidariedade.
Vejam fotos e a música do The Hollies.