Compartilhado do Portal Geledés
- Pesquisa que mapeou e consolidou dados sobre filmes produzidos por pessoas negras no Brasil de 1949 a 2022 encontrou 1.104 obras; 83% de toda a produção surgiu a partir da década de 2010
- Lançamento do livro, que conta com prefácio da Ministra da Cultura, Margareth Menezes, acontece na Cinemateca Brasileira durante programação do Fórum Spcine, dia 28 de junho
- Mesa irá debater a importância de objetos culturais para a preservação da memória e da dignidade das vidas negras, com as pesquisadoras Mariana Queen Nwabasili e Wini Calaça
- A idealização da pesquisa é de Heitor Augusto e a realização e organização é do Instituto NICHO 54 e contou com patrocínios da Open Society Foundation e Spcine, apoio do Instituto Galo da Manhã, além de apoio institucional do Ibirapitanga
A publicação inédita Cinemateca Negra, que investiga a história do Cinema Negro ao mapear e consolidar dados sobre filmes produzidos por pessoas negras no Brasil de 1949 a 2022, será lançada pelo Instituto NICHO 54 em 28 de junho, no Foyer Grande Otelo da Cinemateca Brasileira, dentro da programação do 3º Fórum Spcine. O evento é aberto ao público e reunirá figuras públicas, formadores de opinião e agentes do ecossistema do audiovisual, da cultura, da comunicação e da diversidade.
A programação tem início às 14h30 com um debate que se propõe a conversar sobre a importância de objetos culturais, como o livro Cinemateca Negra, para a preservação da memória e da dignidade das vidas negras. A mesa será composta por Mariana Queen Nwabasili, doutoranda pelo programa Meios e Processos Audiovisuais da USP e pesquisadora com foco em representações e recepções cinematográficas vinculadas a raça, gênero, classe, colonialismo e (de)colonialidade, e Wini Calaça, documentalista responsável pelo acervo multimídia no Centro de Documentação e Memória Institucional de Geledés, com mediação de Heitor Augusto, idealizador, pesquisador-chefe e coordenador da Cinemateca Negra.
A publicação, que tem prefácio assinado pela Ministra da Cultura Margareth Menezes, mapeou o universo de produções negras no Brasil de 1949 — data da primeira obra registrada — até 2022. A Cinemateca Negra é uma realização do NICHO 54, instituto que apoia a carreira de pessoas negras em posições de liderança criativa, intelectual e econômica no cinema, e tem patrocínios da Open Society Foundations e da Spcine, apoio do Instituto Galo da Manhã, além de apoio institucional do Ibirapitanga.
“Cinemateca Negra é um instrumento de trabalho valioso para os objetivos do instituto e promove uma interface qualificada com todos os setores de cinema no Brasil: mercado, regulação, fomento e formação. Os dados e evidências da pesquisa possibilitam a criação de ações estratégicas para a melhoria de políticas de diversidade e tomadas de decisão de investimento, por exemplo. Tem objetivo também de atualizar o retrato da diversidade brasileira no exterior para promover novas cooperações e o fortalecimento da produção da nossa comunidade em escala global”, conta Fernanda Lomba, diretora executiva do NICHO 54.
“Assim como o Centro de Documentação e Memória Institucional (CDMI), de Geledés, que apresenta ao publico a memória institucional da organização e momentos de construção do movimento negro e de mulheres negras, a Cinemateca Negra também compartilha o desejo de preservar o direito à memória e garantir a permanência de protagonistas negros da nossa história”, reforça Wini Calaça, de Geledés.
Após o lançamento, serão doados 50 exemplares de Cinemateca Negra para bibliotecas públicas da cidade de São Paulo como a do Centro Cultural São Paulo, do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, do Museu das Favelas, do MIS (Museu da Imagem e do Som), na Biblioteca Mário de Andrade, além de CEUs e outros espaços culturais descentralizados, como Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes e Centro Cultural da Juventude. A publicação, que tem edição bilíngue, terá ainda uma fase de distribuição nacional, atualmente em negociação, e uma difusão estratégica em ambientes de mercados internacionais.
Pesquisa revelou como racismo e exclusão impactaram a produção cinematográfica negra no Brasil
A Cinemateca Negra mapeou 1.104 filmes — incluindo longas, curtas e médias metragens — dirigidos por uma ou mais pessoas negras desde a década de 40. O levantamento revelou que 83% de toda essa produção surgiu entre as décadas de 2010 e 2020 e que, historicamente, há baixa prevalência de longas produzidos por esse público no Brasil. Os dados mapeados contribuem para que novas perguntas sejam feitas ao cinema brasileiro. Recortes como codireção interracial e desigualdades de gênero foram investigados pela publicação, oferecendo, assim, um retrato inédito da produção negra.
Além disso, a publicação traz uma lista de diretores identificados durante a pesquisa, bem como informações acerca dos filmes dirigidos por pessoas negras, contribuindo, assim, para o reconhecimento e dignidade dessas trajetórias.
“Nosso trabalho de pesquisa evidencia como o racismo impacta negativamente a produção intelectual dos profissionais negros. Contudo, Cinemateca Negra apresenta também diversos capítulos de uma história ainda desconhecida para o próprio cinema brasileiro”, conta Heitor Augusto. “A realização negra pertence à história do cinema brasileiro e com essa publicação queremos que essa produção seja conhecida, reconhecida e incorporada pela sociedade e que seja referência para pessoas negras e não negras”.
A Cinemateca Negra começou a ser produzida em março de 2023 a partir de investigações realizadas por Augusto no campo da curadoria desde 2018. Para chegar no mais amplo retrato da realização negra, teve como fonte de pesquisa festivais, mostras de cinema, retrospectivas e sessões especiais, além de cursos de cinema e audiovisual, cursos livres, formações técnicas e workshops de realização. Também foram consultadas coletâneas em DVD e Blu-ray, artigos acadêmicos, livros de entrevistas e coletâneas, Hemeroteca Digital Brasileira, notícias e matérias online. Bem como repositórios digitais de cinematecas, acervos pessoais, e, por fim, o contato direto com o realizador de determinada produção ou seus descendentes.
Serviço
O lançamento da Cinemateca Negra acontece na sexta-feira (28/06), das 14h30 às 17h, no Foyer Grande Otelo da Cinemateca Brasileira (Largo Sen. Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino, São Paulo). O evento é gratuito e aberto ao público. Para participar, é necessário pegar o ingresso no Sympla.
O evento faz parte do 3º Fórum Spcine, que este ano conta com o tema “Fomentando a Diversidade e a Excelência na Indústria Audiovisual Brasileira“ e acontece entre os dias 26 e 28 de junho, trazendo convidados nacionais e internacionais.
Credenciamento de imprensa:
Liora Mindrisz – liora@oficinadeimpacto.com.br
Contribuição com a pesquisa
A equipe de pesquisa que mapeou os filmes apresentados empregou intensos esforços para que a lista final trouxesse a maior quantidade possível de títulos. Caso queira solicitar, para as próximas edições de Cinemateca Negra, a inserção de algum título que atenda os critérios de elegibilidade da pesquisa, recomendamos que encaminhe um e-mail para os seguintes endereços: nicho54brasil@nicho54.com.br e cinematecanegra@nicho54.com.br. As solicitações serão avaliadas.
Sobre o NICHO 54
O NICHO 54 é um instituto que promove equidade racial apoiando a carreira de pessoas negras em posições de liderança criativa, intelectual e econômica na indústria cinematográfica. Fundado em São Paulo e liderado por profissionais negros, desde 2019 o NICHO 54 trabalha, dentro e fora do Brasil, pela promoção e valorização dos negros brasileiros no cinema por meio de iniciativas de formação, treinamento e partilha de conhecimento; curadoria e (re)construção de imaginários; e de interface com o mercado e os agentes da indústria. Sua atuação conta com a realização de mostras e festivais de cinema, como o Festival NICHO Novembro, concepção de cursos livres de curta duração e programas de mentoria de longa duração, como o NICHO Executiva, além de pesquisa, promoção de desapagamento do trabalho e preservação do patrimônio material e imaterial de pessoas negras, por meio dos programas Cinemateca Negra.