Por Sônia Meneses, professora, Universidade Regional do Cariri, Facebook
No dia 7 de janeiro de 2015, há três anos, dois atiradores, Saïd e Chérif Kouachi, mataram 12 pessoas em Paris, incluindo parte da equipe do jornal Charlie Hebdo. Até aquele momento, aquele atentado foi considerado um dos piores que Paris havia presenciado e, imediatamente, uma gigantesca comoção mundial se fez. O clamor, a dor, a indignação tomou conta das redes sociais. Orações de desespero, manifestações de solidariedade e EMPATIA com a dor dos franceses que foi demonstrada nos milhões de perfis no mundo que passaram a estampar as cores da bandeira francesa com o lema solidário, “Je suis Charlie”. Aqui no Brasil isso não foi diferente, de tal maneira que, na época ficava-se na dúvida sobre em que país estávamos.
Pois bem, ontem dia 27 de janeiro de 2018, um grupo armado metralhou um clube pobre da periferia da capital cearense, Fortaleza, e muito pouco se falou. Os mortos foram adolescentes, mulheres, alguns trabalhadores autônomos num forró. Ninguém mudou o perfil, tão pouco, empunhou algum slogan dizendo, “Je suis Cajazeira”, “Je suis Fortaleza”…
Quem se importa com isso? Foram 18 pobres a menos, “que se matem” é o que dizem e pensam alguns. Para a periferia, acossada pelas facções criminosas que dominam esses bairros, não há democracia, não há solidariedade. Há o medo, o desespero, a desgraça de não ter nascido em Paris.
O simples espaço geográfico que habitam condiciona os olhares, os sentimentos, a desconfiança, a rejeição. Meus conterrâneos são os esquecidos moradores de uma periferia de uma capital do Nordeste. São invisíveis.
A lista de mortos do jornal não trazia nomes, “duas adolescentes”, “um motorista de aplicativo” um ambulante… não são ninguém, só têm um sexo e uma idade. Nesse país grande e equivocado chamado Brasil, se chora pelo distante e se comemora a tragédia e a dor dos que estão perto. Uma nação que odeia o pobre porque é o reflexo no espelho que quer negar.