Sociólogo critica os levantamentos pagos por empresários e bancos: “Isso não existe em lugar nenhum do mundo”
Por Igor Carvalho, compartilhado de BdF
Temos coisas que só acontecem no Brasil. Quantos países do mundo, instituições do setor empresarial
Em um mês começará a Eleição 2024 no Brasil. A corrida eleitoral, no entanto, já está ativa desde o começo do ano, com a divulgação de inúmeras pesquisas, que alimentam uma cadeia de especulações e negociações em torno de nomes que podem ser os próximos prefeitos dos 5.570 municípios do país ou quem sentará em um das 60.311 cadeiras de vereadores nas Câmaras Municipais do país.
No Brasil, o principal balizador de candidaturas são as pesquisas eleitorais, mas elas atravessam uma crise de credibilidade com a população, diversos espectros da política e até mesmo com quem fez dela um ofício na vida.
“Nós estamos num momento em que tudo está indefinido, ninguém sabe dizer com segurança qual o modo mais seguro e confiável de pesquisa. Teremos que passar por mais essa eleição, para no final do processo eleitoral fazer um balanço”, afirma o sociólogo Marcos Coimbra, fundador do Instituto Vox Populi, em entrevista ao Brasil de Fato.
Confira a entrevista na íntegra:
Com a multiplicação de institutos e, consequentemente, levantamentos sobre a corrida eleitoral, o sociólogo questiona o financiamento dessa indústria das pesquisas. “Temos coisas que só acontecem no Brasil. Quantos países do mundo, instituições do setor empresarial financiam de uso público? Lugar nenhum. Onde uma confederação de empresários da indústria financia uma pesquisa para saber em quem o povo vai votar? Lugar nenhum. Ou mesmo um banco? Não existe em lugar nenhum”.
O pessimismo de Coimbra atravessa a escolha da metodologia e o número de entrevistas feitos pelos institutos em um país como o Brasil, de dimensões continentais. “Com duas mil entrevistas você tem uma amostragem boa, com quase mil entrevistas no Sudeste, uma amostragem boa, com 400, quase 500 entrevistas no Nordeste, mas começa a ficar ruim no Sul e no Centro-Oeste e Norte é muito ruim. Por isso, a maior parte dos institutos juntam as duas regiões (CO e NO), agora isso significa uma amostragem boa. Afinal de contas, você está juntando todos os estados das duas regiões em 200 entrevistas. As amostras com duas mil entrevistas são razoáveis para você ter uma visão do Sudeste e do Nordeste, ponto”.
Com a ascensão da Lava Jato, a partir de 2014, a corrupção passou a pautar as eleições no Brasil. No entanto, com a disputa acirrada pela presidência da República em 2022, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu Jair Bolsonaro (PL), a polarização entre os dois opositores ganhou força na agenda política do país.
Para Coimbra, no entanto, a eleição municipal tem características próprias, fora das grandes cidades. “Em um país que tem 5.500 eleições acontecendo, dez vezes mais do que acontece nos EUA, vamos ter em umas 50 a polarização de Bolsonaro e Lula como assunto principal. Nos demais, a maior probabilidade é que sejam temas locais. Quanto menor o município, mais local é a discussão”.