Por Leandro Scala –
Só no Brasil uma mulher condenada a indenizar um homem por danos morais por ter classificado como apologia ao estupro uma narrativa de estupro que este mesmo homem fez em um programa de entrevistas.
O homem em questão é Alexandre Frota , que contou que certa vez , imobilizou uma mãe de santo pelo pescoço , fazendo-a desmaiar , e em seguida a violentou.
Se isso não é estupro, eu não sei mais o que é um estupro , e se contar isso em um programa de entrevistas , sem o menor constrangimento, não é apologia ao estupro , eu não sei mais o que é apologia ao estupro.
Mas mesmo diante do óbvio , a juíza de primeiro grau , Juliana Nobre Correa , condenou a ex-ministra da secretaria de Políticas para Mulheres do governo Dilma , Eleonora Menicucci , ao pagamento de dez mil reais a Alexandre Frota , a título de indenização , por ter classificado como apologia ao estupro a narrativa em questão.
Dez mil de indenização por ter dito o óbvio.
Só no Brasil uma juíza mulher é quem assina uma sentença como esta.
Esse caso , infelizmente , não é um fato isolado. O movimento de culpabilização das vítimas (especialmente em crimes que envolvem a questão do gênero) cresce quase tão vertiginosamente quanto o próprio feminismo. Tanto que (só no Brasil) tramita no Senado Federal um Projeto de Lei que visa tornar a falsa acusação de estupro crime hediondo.
No Brasil , onde uma mulher é estuprada a cada onze minutos. No Brasil , onde uma menina é estuprada por trinta e três homens e apenas três deles são presos. Onde a palavra da vítima é sempre colocada em dúvida. Onde a cultura do estupro não apenas ainda impera: ela cresce e é alimentada por homens como Alexandre Frota e , infelizmente , também por mulheres como Juliana Nobre Correa.
Enfim.
O que esperar de um país em que a primeira mulher a chegar à presidência sofre um golpe machista? E , sobretudo , o que esperar de um país onde o ministro da Educação recebe de Alexandre Frota uma pauta de reivindicações sobre educação?
Só no Brasil.