Por Diego Iraheta, compartilhado de Huffpost Brasil –
Maior estudo epidemiológico realizado no mundo aponta que 63% dos contaminados tiveram alterações no olfato ou paladar e que uma em cada 100 pessoas morrem por causa da doença no País.
No Brasil, 91% das pessoas que contraíram o novo coronavírus apresentaram sintomas. O sinal mais comum da covid-19 entre os brasileiros é alteração no olfato ou paladar: quase 63% tiveram esse problema. Esses dados fazem parte da pesquisa da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), financiada pelo Ministério da Saúde. Os primeiros resultados foram divulgados nesta quinta-feira (2).
Esse é o maior estudo epidemiológico do mundo em abrangência geográfica e número de pessoas testadas, segundo o ministério. Foram analisadas 89.397 pessoas em 133 cidades brasileiras. As 3 fases de análise foram: de 14 a 21 de maio; de 4 a 7 de junho; e de 21 a 24 de junho.
A taxa de letalidade detectada pela pesquisa é de 1,15% no Brasil. Isso indica que de cada 100 pessoas, uma acaba morrendo vítima da doença no País. Para chegar a esse percentual, a UFPel utilizou os números de óbitos por covid-19, nas estatísticas oficiais das 133 cidades pesquisadas, e a proporção de pessoas que testaram positivo, multiplicado pelo tamanho da população desses municípios.
Um dos principais achados do estudo é a elevada ocorrência de sintomas nos infectados no Brasil, ao contrário do que a literatura científica mostrou em outros países. Apenas 9% dos brasileiros com coronavírus são assintomáticos. Além das alterações no olfato e paladar, são comuns dor de cabeça, febre, tosse e dores no corpo.
“Como geralmente os sintomas da covid aparecem, isso é uma boa notícia para [o sistema de saúde] desenvolver protocolos para identificar quem tem o vírus e conseguir evitar a disseminação da doença”, analisa o epidemiologista Pedro Hallal, professor da UFPel e responsável pela pesquisa.
A prevalência de infecção por coronavírus na população investigada foi de 1,9% na 1ª fase, 3,1% na 2ª fase e 3,8% na 3ª fase. “O crescimento da covid-19 está desacelerando da 2ª para a 3ª fase no Brasil, após uma aceleração grande da 1ª para a 2ª fase”, explica Hallal.
Proporcionalmente, a prevalência da doença foi maior no Norte e no Nordeste no Brasil. “A epidemia foi muito mais intensa no Norte, mas agora está num cenário de estabilidade”, afirma o epidemiologista. No Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul, a doença ainda avançava no final de junho. Os gráficos a seguir mostram o recorte regional da covid-19:
Covid-19 atinge mais a periferia
Outra descoberta do estudo é que a taxa de infecção de crianças é semelhante à de adultos. Mas o quadro clínico dos pequenos não é sério como o de idosos, que estão no grupo de risco.
A pesquisa endossa ainda levantamentos anteriores sobre o recorte socioeconômico da covid-19. Os 20% mais pobres da população investigada têm o dobro da taxa de infecção dos 20% mais ricos. Mais: a prevalência da doença é inversamente proporcional à renda.
O estudo também aponta que ao menos 20% das pessoas não aderiram à quarentena em nenhum estágio da epidemia no Brasil. Além disso, a proporção de brasileiros relaxando as regras de isolamento vem aumentando do meio de maio para o fim de junho.
Enquanto na 1ª fase 23,1% estavam sempre em casa, essa proporção caiu para 18,9% na 3ª fase. Já o percentual daqueles que saem diariamente saltou de 20,2% em meados de maio para 26,2% no fim de junho. Esses números refletem as políticas de reabertura das atividades econômicas de várias partes do País.
O Brasil teve até hoje 1.496.858 casos de covid-19, de acordo com o balanço do Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde). Dados coletados até às 18h desta quinta mostram que 1.252 novas mortes foram confirmadas nas últimas 24 horas. No total, já são 61.884 óbitos.