“É inadmissível que a Amazônia ainda conviva com esse tipo de episódio, com pessoas desaparecidas em terras indígenas por ações de grileiros, alvo de grileiros”, condenou o presidente da ABI, Octávio Costa

 Copartilhado de Hora do Povo

Na foto: Octávio Costa, presidente da ABI, durante sessão na Câmara dos Deputados - Foto: Agência Câmara

Nesta terça-feira (7), no Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, a Câmara dos Deputados realizou uma sessão solene para homenagear a data, que contou com as entidades representativas, os órgãos da imprensa, entre outras personalidades. A sessão contou com um debate sobre a influência das fake news sobre o exercício da democracia e cobranças sobre o desaparecimento no Amazonas do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. 

O Dia Nacional da Liberdade de Imprensa recorda um manifesto de 1977 que exigia o fim da censura à imprensa e a restrição de liberdade de informação. Assinado por quase 3 mil jornalistas, o documento, publicado no Boletim da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), denunciava a apreensão de edições de jornais, omissão de informação por parte do governo e a ameaça do AI-5, ato institucional da fase mais dura da ditadura brasileira.

O presidente da ABI, Octávio Costa, classificou nesta terça, durante seu pronunciamento na Câmara dos Deputados, como “inadmissível” o desaparecimento na Amazônia do jornalista Dom Philips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo.

“É inadmissível que a Amazônia ainda conviva com esse tipo de episódio, com pessoas desaparecidas em terras indígenas por ações de grileiros, alvo de grileiros. É inadmissível. Então, para nós é lamentável que esse episódio esteja ocorrendo exatamente no dia dedicado à liberdade de imprensa”,. declarou.

O presidente da ABI também lembrou de ameaças e agressões a jornalistas e disse que a associação se preocupa com este ano eleitoral.

“A ABI vai defender os jornalistas e vamos recorrer a todos os meios. ABI vai recorrer ao Judiciário e agressores não vão ficar impunes”, disse.

O deputado Ney Leprevost (União-PR), que presidiu a sessão, disse que enviará um pedido ao Ministério da Justiça solicitando a concentração de esforços na busca do jornalista.

Além de Octávio Costa, participaram da sessão Cláudia Lemos, presidente da Associação Brasileira de Comunicação Pública, e Cláudio Araújo, servidor de Comunicação da Câmara dos Deputados.

“Neste país, jornalistas são ameaçados e agredidos. Quando isso acontece é a democracia que está em risco. Posso lembrar alguns desafios que enfrentamos, entre eles a necessidade de combater a desinformação, tema em debate no parlamento. Fortalecer a imprensa faz parte desse combate, assim como fortalecer a comunicação pública para promover a transparência, a prestação de contas e o acesso aos serviços prestados aos cidadãos”, afirmou Cláudia Lemos.

Veja a sessão solene na íntegra:

DEFESA DO JORNALISMO PROFISSIONAL

Para reafirmar a importância do dia nacional da liberdade de imprensa, o consórcio de veículos de imprensa, composto por 11 veículos de imprensa se uniu em uma ação que reforça a importância do acesso à informação de qualidade pela sociedade, já que sem informação não há cidadania plena. 

A ação também busca defender a integridade dos jornalistas profissionais que sofrem, cada vez mais, com ataques e ameaças no exercício da profissão.

Todos os jornais impressos e sites do consórcio trazem nesta terça-feira um anúncio de página inteira e uma tarja preta no alto de suas capas, com o texto “Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Uma campanha em defesa do jornalismo profissional”.

No anúncio, um texto localizado na parte de baixo de uma página em branco explica: “Apoie o jornalismo para que páginas em branco, como essa, não aconteçam. O jornalismo precisa ser livre. Livre para informar, investigar e mostrar tudo o que acontece para que você forme a sua opinião. Quem defende o jornalismo defende a liberdade e fortalece a democracia”.

O consórcio de veículos de imprensa totaliza e divulga os números de casos e mortes da pandemia de Covid no Brasil desde junho de 2020, em um trabalho que recebeu prêmios pelo papel importante na divulgação de dados confiáveis e relevantes ao público.

O Brasil ocupa uma posição ruim no ranking mundial de liberdade de imprensa, feito pela organização Repórteres sem Fronteiras, que avalia a liberdade dos jornalistas para desempenhar seu papel profissional. Dos 180 países avaliados, o país está na 110ª posição.

Ao citar o crescimento do discurso contra a imprensa no mundo, o relatório citou especificamente o Brasil: “Cada vez mais visíveis e virulentos, os ataques públicos enfraquecem a profissão e incentivam ações legais abusivas, campanhas de difamação e intimidação, especialmente contra mulheres, e assédio online a jornalistas críticos.”

A categoria também tem sido vítima de violência crescente: em 2021, foram 145 casos de violência não letal contra jornalistas, sendo quase 3 casos por semana, segundo o relatório anual “Violações à Liberdade de Expressão”, elaborado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert).

Ao todo, 230 profissionais de imprensa e veículos de comunicação foram alvo de violência no ano passado – uma alta de 21,69% em relação a 2020.

Ainda, segundo os dados da Abert, o número de atentados contra jornalistas dobrou em 2021 em relação ao ano anterior, passando de quatro para oito. Em 50% dos casos foram utilizadas armas de fogo contra os profissionais da imprensa.