“No mundo inteiro reina a perplexidade com o que está acontecendo no Brasil”, alerta Paulo Nogueira Batista Jr.

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Compartilhado de Jornal GGN – 

Durante encontro, economista narrou ao público os bastidores de parte das experiências vividas junto ao FMI e aos Brics, de 2007 a 2017

da FCE – UFRGS

“No mundo inteiro reina a perplexidade com o que está acontecendo no Brasil”, alerta Paulo Nogueira Batista Jr.

Em palestra de lançamento do livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. narrou ao público os bastidores de parte das experiências vividas junto ao FMI e aos Brics, de 2007 a 2017. Ao falar sobre nacionalismo, economia, política e soberania nacional, salientou o tom de perplexidade com que a comunidade internacional tem enxergado o Brasil recentemente: “Para os estrangeiros, o Brasil está irreconhecível. Um país que sempre irradiou diálogo e abertura está agora tomado por uma onda de obscurantismo”, pontuou. A atividade aconteceu na tarde do dia 4 de dezembro, no auditório da Faculdade.

Para o economista, o fato de o Brasil ser um dos cinco países que fazem parte das listas dos dez maiores territórios, das dez maiores populações e das dez maiores economias, garante o poder de não se alinhar política e economicamente a outras nações. E, segundo Nogueira Batista, o Brasil tem se engajado demasiadamente em pautas benéficas aos Estados Unidos, sem defender seus próprios interesses – o que chamou de “entreguismo quase sem disfarces”.




Como justificativa, o economista listou uma série de concessões do governo brasileiro aos Estados Unidos, na expectativa de uma indicação para a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Entre as medidas, destacou a prorrogação da isenção da tarifa de 20% sobre a importação de etanol americano, a isenção de vistos para turistas estadunidenses sem reciprocidade para brasileiros e a renúncia brasileira ao status de país em desenvolvimento nas negociações junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Os Estados Unidos, por outro lado, não oficializaram o apoio à candidatura do Brasil para ingressar no órgão, priorizando Argentina e Romênia, e anunciaram novas tarifas sobre exportações de aço e alumínio do Brasil. “Se há amor, é um amor não correspondido”, brincou o economista.

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Nogueira Batista citou ainda o voto contrário do Brasil à resolução que condena o embargo econômico, comercial e financeiro a Cuba na Organização das Nações Unidas (ONU). Ao votar a favor do embargo imposto pelos Estados Unidos ao país caribenho, o Brasil alterou uma posição diplomática adotada desde 1992. Apenas Estados Unidos, Israel e Brasil validaram o embargo. Outros 187 países condenaram a medida na Assembleia-Geral da ONU, que aconteceu no dia 7 de novembro.

Palestra lotou o auditório da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS

Perda de relevância do Brasil nos Brics

Em razão da experiência como vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento de 2015 a 2017, Nogueira Batista relatou algumas das dificuldades enfrentadas pelo Brasil e por outros países emergentes ao buscar maior protagonismo no mundo de hoje e testemunhou as resistências, por parte das potências tradicionais, a esse movimento. “Foi a dificuldade dos Brics em obter mais espaço no FMI que levou o grupo a fundar um banco e um fundo monetário próprios”, explicou o palestrante.

Por outro lado, o economista desmistificou a ideia de que o grupo tenha se formado com o objetivo de contestar o ocidente e instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial: “Brasil, Rússia, Índia e China, à época, se uniram pelo sentimento de insatisfação com a ordem estabelecida, mas nunca fizeram discurso incendiário, não buscavam a competição. Eles buscavam a criação de mecanismos complementares às entidades monetárias existentes”, detalhou.

Nesse cenário, o Brasil foi conquistando cada vez mais importância junto aos Brics. Contudo, desde 2017, há um apagamento do país junto ao grupo, segundo Nogueira Batista. O que pode ser justificado, conforme o palestrante, em razão de um maior alinhamento do Brasil em relação aos Estados Unidos, posição criticada pelo autor.

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Apesar de descrever um cenário difícil, o economista afirmou ter esperança de que o Brasil possa encontrar o caminho do desenvolvimento – com justiça social, democracia, independência. “Estamos vivendo uma situação duríssima, há razões para acreditar que os ventos estão mudando. A nossa voz se fará ouvir de novo em todos os cantos do mundo, e mais forte, em defesa de valores humanos que o brasileiro, talvez como ninguém, tem condições de vivenciar e transmitir: a doçura, a versatilidade, a criatividade, a imaginação, a alegria de viver”, concluiu.

Sobre a obra – O Brasil não cabe no quintal de ninguém, de Paulo Nogueira Batista Jr., é o relato dos bastidores da passagem de um economista brasileiro por duas instituições internacionais, o FMI e o banco de desenvolvimento criado pelos BRICS – o grupo de países emergentes. Durante mais de dez anos no exterior, ele participou da luta pela reforma da arquitetura financeira internacional após a crise de 2008 e enfrentou a resistência de representantes de nações ricas. Assim, com estilo leve, em que alterna humor e emoção, ironia e análise, narra embates entre países e mesmo dentro do governo brasileiro em temas como crises econômicas e a organização do sistema financeiro global, abordando ainda o nosso conhecido complexo de vira-lata. O que une essa grande variedade de assuntos é o Brasil, o nacionalismo e, segundo ele, “uma certa tendência a acreditar que nosso país tem um valor muito especial – ainda que nós, brasileiros, nem sempre estejamos à sua altura”.

Olívio Dutra, ex-governador do RS, e Miguel Rossetto, ex-ministro do Ministro do Trabalho e Previdência Social, assistiram à palestra de Paulo Nogueira Batista Jr.
Ao final da palestra, o autor autografou a obra “O Brasil não cabe no quintal de ninguém”
Tarso Genro, ex-governador do RS, assistiu à palestra de Paulo Nogueira Batista Jr.
Obra foi lançada pela editora LeYa em outubro de 2019
Professor da FCE Henrique Morrone mediou o debate com o economista convidado
Palestrante narrou vivências junto ao FMI e aos Brics entre 2007 e 2017

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