No palco do Sarau Delivery, Cláudio Motta, exaltando um povo gente rara que não tolera um tal de lero-lero

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem blogado

O Bem Blogado, dá continudiade à série Sarau Delivery, a arte nos tempos do coronavírus, hoje trazendo o cantor e compositor Claudio Motta. A bela música aqui apresentada, “Beira D’água” traz no seu final: “Mas pode virar demônio / E eu quero ver o lero-lero escamotear”.

De imediato veo à nosa mente o nome Biloriro, de triste presença atual. Por que será a lembrança? Mas ele, o Biroriro que se cuide, pois como lembra a letra, “esse povo é gente rara, pode ver / Fez de uma senzala a sala, (de comer) / E se já não nasceu santo / Vai mudando de mansinho até santo ficar.

Morador nos bairros de Campo Grande e Ilha de Paquetá, Claudio Motta começou a compor jovem. Suas composições possuem características muito pessoais e, por vezes, incomuns. No final dos anos 70 e início de 80, se apresentou em várias casas importantes na época.

Na segunda metade dos anos 80, com A Banda Ou Nada, se apresentou por todo o Rio de Janeiro em Teatros, casas de show e bares, com um repertório variado, mas , sobretudo, com suas composições.




No final dos anos 90, devido ao seu interesse pelos compositores da Era de Ouro da Rádio Nacional e de seu interesse pela história do Rio Antigo, em 2005, teve a ideia de unir esses assuntos tão próximos e criou o Bambo de Bambu, grupo inteiramente dedicado aos compositores do período pós Pereira Passos até os anos 50 do século 20.

Nesta fase, elaborou arranjos modernos e, por vezes, surpreendentes de clássicos da melhor música popular brasileira além de muitas músicas esquecidas e descobertas em pesquisas feitas por ele. Cláudio possuía um gigantesco arquivo com fotos e filmes antigos do Rio e dele fez um longa-metragem, que é rodado durante as apresentações do grupo, ainda em atividade.

Compôs para peças teatrais, foi membro da Cooperativa de Músicos Veia Musical, onde participou de um CD com duas músicas de sua autoria. Teve músicas gravadas por Nilze de Carvalho e Carol Assad e contou em seus shows com participações de grandes artistas como: Oscar Bolão, Cristina Buarque, Tibério Gaspar ( que se tornou um parceiro de composição).

Em 2018, lançou seu primeiro CD autoral pela gravadora Fina Flor com participações importantes como: Paulão Sete Cordas, Jards Macalé, Marcos Suzano, Nilze de Carvalho, entre muitos outros.

Recentemente, lançou o CD “A Roda Do Tempo” e o single “Céu Deserto”, música, arranjo e produção próprios, interpretada pela cantora Carol Assad. Agora, no final de março de 2020, lançou a música ”Merecias”, último trabalho seu. Seu trabalho pode ser ouvido em todas as plataformas digitais do mundo.

Seu próximo trabalho está em fase de produção: CD, com Carol Assad interpretando novas composições suas, em parceria com a poetisa Christiana Nóvoa.

Sarau Delivery, uma seção do Bem Blogado, traz diariamente artistas fazendo apresentações para o público que está em casa, recolhido no combate ao coronavírus.

A seção está aberta para músicos, poetas, contadores de história…

Vamos nos informar sobre o mal que apavora o mundo para que nossos corpos não sofram, mas vamos alimentar nossas almas para que nossa saúde mental também prevaleça.

Que o seu tempo seja preenchido com arte.

Com vocês, Cláudio Motta em “Beira D’água”, de sua autoria.

Beira D’água ( Cláudio Motta )

Acordo cedo , bato o ponto, vivo à beira d’água e me mato que é pra vida melhorar……
O que não tolero é o tal do lero-lero pra me enrodilhar
Eu me fiz homem inda menino,
lá pras bandas de Quintino, o Rio de Janeiro é o meu lar…
Se me perguntam eu nego
porque os “home” e o lero-lero não vão me levar.

Eu vivo à beira d’água, pode crer
Ninguém nem me repara…
Mas um dia inda me crio
E descolo um xote fino Pra gente dançar….
Que esse povo é gente rara, olha aí…
Fez de uma senzala a casa, de cair…
E se espalha no que resta
Dessa terra que é palanque do quem-tem-mais-tem
E a justiça que é o que presta
Quero ver o lero-lero convencer que vem

Eu encaro parada dura, bato ponto na macumba,
toco harpa, vou pra feira me virar…
e o tal do lero-lero insistindo que minha vida ainda vai melhorar
É que nasci meio bandido, meio anjo
e sempre aflito e nem havia mão pra me amparar
ouvindo lero-lero lero batuquei
um samba-rock e resolvi cantar

Eu vivo à beira d’água, pode crer
Ninguém nem me repara…
Mas um dia ainda sapeco
O sucesso de um bolero Pro povo dançar, que esse povo é gente rara, pode ver
Fez de uma senzala a sala, (de comer)
E se já não nasceu santo
Vai mudando de mansinho até santo ficar

Mas pode virar demônio
E eu quero ver o lero-lero escamotear
E eu quero ver o lero-lero escamotear
E eu quero ver o lero-lero escamotear

 

Veja os artistas que já se apresentaram no Sarau Delivery, clique aqui.
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