Queda vem sendo registrada há cinco anos e volta do sarampo e da poliomielite preocupa as autoridades
Por Elizabeth Oliveira | ODS 3 • Publicada em 31 de outubro de 2021 – 10:24
Na foto: Servidora do posto Heitor Beltrão, na Tijuca, Rio de janeiro, aplica a vacina de HPV em Miguel Torres Farias, 12 anos. O menino não havia feito a complementação das vacinas regulares que estavam atrasadas. Foto Marco Antonio Rezende/Colabora.
“O município do Rio de Janeiro, assim como o resto do país, apresenta redução das coberturas de rotina de crianças e adolescentes ao longo dos últimos cinco anos, como pode ser observado pelos índices para o município ”, afirma Gislani Mateus, assessora da Superintendência de Vigilância em Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Mestre em Saúde Pública, a enfermeira sanitarista explica que o cenário da vacinação foi acentuado pelo contexto da pandemia e reforça que, embora as salas de vacina continuassem com todas as suas atividades, a frequência da população aos serviços de saúde foi reduzida.
Quanto às principais repercussões relacionadas à queda de coberturas vacinais, ela explica que essa é uma preocupação global e local. “Como exemplo, destacamos a atenção especial ao sarampo, que já foi reintroduzido no nosso território, e o risco de reemergência da poliomielite”. Como recomendação, ela destaca a importância da atualização das cadernetas de vacinação das crianças, dos adolescentes e dos adultos. “Vacina, além da proteção individual, também é um pacto coletivo”, afirma.
A especialista acrescenta que a SMS tem realizado campanhas, além de ações como “busca ativa de crianças em atraso vacinal, monitoramento de cobertura pela gestão de listas de cadastrados na unidade, acompanhamento dos registros das doses aplicadas, articulação com escolas e creches e ações de comunicação para sensibilização”. Como parte das Unidades de Atenção Primária, ela informa que a SMS conta com 237 salas de vacinação de rotina.
Como fatores que têm contribuído para o avanço da queda na cobertura vacinal, ela também menciona aspectos já apresentados por outros especialistas consultados, como “a falsa sensação de segurança, pois muitas doenças imunopreveníveis já não ocorriam devido ao sucesso do Programa Nacional de Imunizações; o crescente movimento antivacinas, inclusive com divulgação de informações falsas sobre ausência de efetividade das vacinas e sobre eventos adversos inexistentes; contexto econômico de muita fragilidade e questões operacionais na rede de serviços do SUS”. Essas são questões que, segundo reforça, têm sido destacadas pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva para explicar o fenômeno.
Em nível estadual, segundo informado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, a cobertura de todas as vacinas sofreu redução. A poliomielite caiu de 88,76% em 2017; para 87,48%, em 2018; e para 73,62%, em 2019. “E, em 2020, ano em que a pandemia prejudicou a ida aos locais de vacinação, apenas 55,20% dos bebês foram imunizados”, destacou o comunicado divulgado à imprensa. Também foi ressaltado que há preocupação com a realidade das etapas seguintes, de reforço a essa vacina, uma vez que, em 2020, apenas 45,83% do público alvo (de 13 a 24 meses) foi imunizado, embora nos quatro anos anteriores as estatísticas também fossem de queda. Nesse contexto, foi acrescentado que “o comparecimento das famílias para a dose dos 4 anos também vem caindo”, tendo alcançado 49,58%, em 2020, além de índices aquém do esperado nos três anos anteriores.