No Uber de Sérgio, a linguagem popular viajando sem preconceito

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O Bem Blogado pega carona, novamente, no Uber do arquiteto Sérgio AR Pereira, autor do livro “Arquiteto & UBERnista”.

Por Sérgio AR Pereira, arquiteto e urbanista que foi UBERnista




Sérgio, arquiteto urbanista, entre 2017 e 2019 trabalhou como motorista de aplicativo. No livro, o profissional transporta os leitores a um mundo de ambigüidades, coincidências, autoritarismo e, por que não?, humanismo.

Nesta edição, Sérgio aborda o linguajar popular, a sabedoria do povo, de uma forma que deixa do lado de fora do seu carro o preconceito.

Faço aqui observações sobre o linguajar popular porque realmente muitas vezes essas expressões ocorreram em diálogos que tive com passageiros no Uber. São comuns e não tenho preconceito algum quanto a isso. Mas há muita gente que tem

Falar errado parece engraçado, mas não tem graça alguma ridicularizar isso, como sempre é feito. Uma pessoa, por exemplo, que usou o termo psicotrópis (no Uber), parecia uma trabalhadora doméstica, honesta, que não teve grandes oportunidades na vida, trabalhava dignamente para pôr comida em casa para os filhos, porém, não teve acesso a uma educação melhor e mais abrangente. E mais adiante em sua conversa disse à sua interlocutora que estava no Uber, naquele dia, excepcionalmente, porque não ganhava para ter aquele “luxo” e estava muito atrasada, pois ficou esperando por mais de meia hora o ônibus que não apareceu.

Um outro passageiro me perguntou se eu era “uber iquis”. No que eu pensei:, “Uat is Dis?” Depois do primeiro impacto me ocorreu que uma das modalidades da Uber é o Uber X, cuja pronúncia em inglês é parecida com “iquis”.

Respondi que sim e que ele, passageiro, era quem definia o tipo de corrida a ser cumprida, que poderia ser, no caso do carro que eu utilizo, o “Select” e o “Juntos”, além do “iquis”. Definitivamente, ele não prestou atenção em minhas palavras e caiu imerso em seu celular para falar noooo: “zapzap”.

O brasileiro é muito criativo. Muito. O mundo nada sabe sobre os nossos talentos ocultos de criatividade. Acham que só temos futebol, o que, aliás, nem temos mais tanto.

Esse linguajar popular é muito rico e a toda hora escutamos alguma prosa desse tipo, mas em minhas percepções, a partir dessas experiências diárias, observei que não importa o nível social, a aparência ou seja lá o que for que diferencie uma pessoa de outra, uma imensa maioria de pessoas (oito em cada dez, me arriscaria) não usa plural em todas as “palavra” e usa o “mim” para conjugações verbais.

Outras raras vezes eu ouvi pessoas utilizarem a expressão “possa ser”, que soa estranho assim como o “conforme seje”, que parece ter mais suposição de futuro embutida em si do que o “conforme for” e tem uma sonoridade engraçada, mas não está correto.

Contudo só tem um erro desses comuns de português que supera a quantidade de pessoas que falam “pra mim fazer”, que é a não utilização do verbo conjugado no modo subjuntivo, no tempo futuro justamente.

E isso gera um festival de: “você quer que eu levo?”, ou “quer que eu falo com ele?” E assim por diante, todo o “pessoal” sem medo de ser “felizes”.

Faço essas observações sobre o linguajar popular porque realmente muitas vezes essas expressões ocorreram em diálogos que tive com passageiros. São comuns e não tenho preconceito algum quanto a isso.

Mas há muita gente que tem. Uma senhora com jeito de que queria ser elegante, me elogiou dizendo que eu era bastante educado para ser um motorista de aplicativo.

Eu agradeci apenas e não fiz comentário algum. E ela complementou: “O senhor não disse ‘pobrema’ nenhuma vez”. Olhei para ela com ar de reprovação que certamente não foi captado. Isso é preconceito.

E mal sabia ela que um amigo me contou que em um diálogo em um ônibus circular do Campo Limpo, em São Paulo, duas pessoas aparentando muita simplicidade conversavam e uma perguntou à outra se o certo seria “pobrema” ou “poblema” e a outra esclareceu que “pobrema” é quando há falta de dinheiro e “poblema” é quando é emocional. Ao que a outra respondeu: “Então eu tô com os dois de uma vez”, e riram felizes.

Como discriminar um povo tão rico?

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Fazer contato pelo WhatsApp – (11) 93715 5328

Valor do livro R$ 40,00

Valor do envio R$ 10,00 (para todo o território nacional)

Valor total R$ 50,00

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