Chamada pública vai selecionar até quatro projetos de resiliência climática, além de implementar 21 mil cisternas e 16 mil unidades de tratamento e reuso de água
Por Concita Alves, compartilhado do Portal da CUT
FOTO: FÁBIO DUARTE
O Nordeste terá investimentos na ordem de R$ 1 bilhão para quatro estados da região que adotem sistemas de produção agropecuária resilientes, conservação de recursos hídrico e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas e ainda capacitem 250 mil famílias.
Os investimentos fazem parte do apoio ao desenvolvimento sustentável no semiárido nordestino e à melhoria da produção e capacidade de enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas em curso, do Fundo Internacional do Desenvolvimento Agrícola (Fida), que em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), lançou o projeto “Semeando Resiliência Climática em Comunidades Rurais do Nordeste”, em Brasília, na última reunião do Consórcio Nordeste, na semana passada.
“É um projeto pioneiro internacional que vai mostrar como a população mais pobre do campo pode se preparar para extremos climáticos, ter melhores práticas, sequestrar carbono, gerar renda, preservar e ter acesso a recursos hídricos, aumentar a produtividade agrícola, ter energia sustentável e limpa. Vai ser muito impactante”, destacou Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, durante o lançamento do Fundo.
O edital está aberto no site do BNDES e vai receber propostas de todo o Nordeste, mas, neste primeiro momento, serão selecionadas as iniciativas de apenas quatro estados.
“O Nordeste tem um papel de destaque nessa pauta. Não é possível discutir a agricultura familiar e o enfrentamento da pobreza rural no Brasil sem discutir o Nordeste, sobretudo o nosso semiárido”, afirmou a governadora Fátima Bezerra, que coordena a Câmara Temática da Agricultura Familiar no âmbito do Consórcio.
A governadora reconheceu o apoio institucional dado à Câmara temática e ao Consórcio pelo Fida. “Apoio esse, que aliás, vem de antes da formalização da Câmara Temática, porque o Fida já apoiava o Fórum de Gestores e Gestoras da Agricultura Familiar do Nordeste no contexto do Projeto Semear Internacional”, destacou.
Ainda segundo Fátima Bezerra, investir no desenvolvimento rural nas áreas mais vulneráveis do nosso semiárido, com um olhar especial para os assentados da reforma agrária, as comunidades indígenas e quilombolas, os jovens e as mulheres, é fundamental para a redução da fome e da pobreza.
O Fida é hoje um dos maiores estimuladores e financiadores de projetos e ações voltadas para a agricultura familiar no Nordeste, gerando impacto positivo na vida dos agricultores e agricultoras familiares.
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (FETARN), Erivan do Carmo “As políticas de sustentabilidade hídrica têm garantido a fixação dos homens e mulheres no campo, que têm vivido cada vez de forma mais digna no combate ao êxodo rural, além de ter tornado mais óbvio o alcance de mais capacidade de produção.
“Nessa perspectiva, projetos dessa natureza, são fundamentais para o combate à fome e auxiliar no desenvolvimento, no sentido de diminuir os efeitos das mudanças climáticas. Isso deixa o nosso povo do campo cada vez mais imbuído de uma consciência ecológica consolidada” pontua do Carmo.
Para Raimundo Canuto, coordenador geral da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar FETRAF-RN, “No que diz respeito ao melhoramento da vida dos homens e das mulheres da Agricultura Familiar, no semiárido nordestino, o governo federal tem avançado substancialmente, e está fazendo o diálogo em parceria com o governo do estado e os movimentos sindicais organizados da Agricultura Familiar.
“Além do desenvolvimento proporcionado por novas tecnologias, nós compreendemos a importância da implementação das cisternas, e que o debate sobre as questões climáticas tem avançado e contribuído para que mais famílias tenham acesso aos programas e tecnologias para melhoramento de nosso território rural”, disse
A previsão é que, das famílias diretamente impactadas, cerca de 40% sejam mulheres e 50% jovens, alcançando uma área de 84 mil hectares e restaurando ecossistemas degradados com potencial para prestação de serviços ambientais. Além disso, serão implementadas 21 mil cisternas e 16 mil unidades de tratamento e reuso de água residuais domésticas.
Nordeste
O Nordeste abriga 47,8% de toda a agricultura familiar do Brasil. São mais de 1,8 milhão de estabelecimentos de agricultura familiar. Mais ainda, 77% de todas as propriedades rurais do Nordeste são de famílias agricultoras, que, por sua vez, representam apenas 23% da área rural ocupada na Região.
São esses agricultores e agricultoras familiares, concentrados principalmente no Semiárido nordestino, que produzem 80% de toda a mandioca da região, 80% do mel de abelha, 75% do leite de cabra, que mantém 75% do rebanho suíno, 70% dos rebanhos caprino e ovino, mas que, por outro lado, são também historicamente mais afetados pela pobreza e pela fome.