Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Poucos eventos poderiam atestar a degradação total do Brasil como o discurso de Bolsonaro para a ONU. Foi um festival de mentiras, alucinações, ignorância e submissão aos Estados Unidos que envergonhará por muito tempo os brasileiros que ainda mantêm a sanidade. Nem o consolo de ver nosso Pinóquio exposto ao mundo compensa aquele espetáculo atroz.
O fascista que nos governa falou para o mundo como se dirigisse para o gado que o adula. Fez literalmente o diabo. Entre outros atos do circo de horrores, culpou indígenas e caboclos pelo fogo que consome a Amazônia, mentiu sobre o auxílio emergencial, se sentiu no direito de invadir a soberania da Venezuela e deu a puxada de saco tradicional em Donald Trump. Sua claque de ignorantes, civis e militares adorou. O mundo civilizado ficou com uma só pergunta: como um País da relevância do Brasil desceu a um nível tão baixo?
Um dia antes, Bolsonaro explicitou a ideia de como enxerga as instituições. Preparando o Brasil para o que vem adiante, adiantou que escolherá agora um ministro para o STF que “tome cerveja comigo no fim de semana”.
É isso, quer fazer do tribunal maior da Nação um puxadinho dos laços provados e habituais que tem com milicianos em seu boteco. Tudo bem que o STF já faz tempo não se dá ao respeito, mas Bolsonaro perdeu a noção institucional que no mínimo deveria fingir existir. Talvez o inacreditável ministro Fux, o novo presidente da Corte, seja convidado também para o pagode de togas e o presidente fascista.
Essa esculhambação institucional, encorajada por generais fascistas e decrépitos, é inimaginável em qualquer País minimamente civilizado. Mas é o nosso cotidiano.
O acaso trágico também tem ajudado Bolsonaro. A pandemia que infelizmente já tirou a vida de quase 140 mil compatriotas abriu a janela para o oportunista se arvorar em pai do auxílio emergencial que permitiu a sobrevivência temporária de milhões de nossos miseráveis, embora a parcela informada da população saiba que os 600 reais vieram da luta dos parlamentares oposicionistas.
É inegável, e a política exige a leitura correta dos fatos, que houve algum acréscimo na popularidade do Presidente da República nos estratos mais necessitados.
Nem tanto como análises apressadas repetem, também é verdade. Bolsonaro continua ainda com um pouco mais de um terço de aprovação, suficiente para levá-lo a um segundo turno nas eleições de 2022, mas incapazes para dar a fatura como liquidada.
Ocorre que o auxílio já caiu pela metade e as perspectivas econômicas para o início de 2021 são tenebrosas, ao contrário do que vaticina o desmoralizado Paulo Guedes. Sem o dinheiro do auxílio conquistado pela oposição e o fim de programas que minimizavam o risco de demissão de trabalhadores ainda formais, abre-se uma imensa incógnita para o Brasil.
Como administrar a luta pela sobrevivência dos pobres na hora em que o mercado vai exigir a austeridade assassina imposta pelo bárbaro teto de gastos? Como manter o necessário SUS de pé com o desejo dos generais de sucateá-lo mais ainda?
Ninguém pode assegurar o que vai acontecer no Brasil em 2021. Mas todos os dados apontam para uma lenta recuperação econômica nos países mais ricos e, no Brasil dependente, as dificuldades tendem a aumentar.
Afora os rolos policiais que envolvem a família Bolsonaro, apesar de toda cobertura do Judiciário, o fascista empoderado não terá vida fácil na economia no próximo ano.
Enquanto não chega a hora da verdade para a política econômica excludente e entreguista, torçamos para que a vergonha exibida na ONU tenha fim. Afinal, dizem que os brasileiros não desistem nunca. É acreditar e lutar para que o País não seja transformado num boteco fascista com toga no churrascão miliciano.