Nossas Raízes da África

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“Todas as influências são parte de mim, que dão vazão na palavra, que constrói e inventa” (Mia Couto, escritor e biólogo de Moçambique, África).

Por Lourenço Paulillo, cronista e poeta




Este é um pequeno tributo à grande África. Tomei a liberdade de utilizar palavras de diversas línguas africanas, como o Quimbundo, o Iorubá e o Quicongo.
Baseado em minha pesquisa feita durante visita à exposição “Línguas africanas que fazem o Brasil”, em cartaz no Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, até 31 de janeiro de 2025.

Amanhece o dia.
Luiz – homenagem a Luiz Gonzaga – é um moleque nascido num quilombo. Filho caçula, gosta muito de pescar num kalunga próximo. Antes ele vai procurar minhoca para o anzol. Quando faz bagunça, sua mãe deixa de dengo e esquenta sua bunda. Foi assim ao mexer com uma casa de marimbondo, numa moita de aya. Levou várias picadas e começou a xingar.


O pai é um malungo do bem, é um bamba. Respeita demais os kotas, não acredita em mironga. Antes de iniciar o trabalho, faz um agô para Obá.


A mãe trabalha na quitanda, não gosta de fofoca, de fuxico. Prepara com capricho uma adiê com dendê, sem pressa, com malembe. Quando a comida está pronta, é um verdadeiro egó. Combina com canjica e com fubá. Pode-se dizer que é um prato do orum. Também faz muitos quitutes com quiabo.
Quando em dificuldade, ela recorre ao zamburá.


Em caso de doença, a cura é buscada na umbanda, e comemorada com samba. Sim, fazem muita festa e convidam a cambada. Nada de cochilar.


No final do dia, eles pedem ajuda a um orixá, para que possam viver em paz, com serenidade e alegria. E dizem: Olorum, modupé.

Na modesta casa eles têm um jacutá, ao pé do qual evocam os eguns e dão graças a Zambi, fazendo soar um ingoma e oferecendo-lhes acarajés.

Ao terminar, dou a todos meu adinkra, desejando-lhes muito axé.

DA ÁFRICA

Moleque: garoto
Quilombo: agrupamento de pessoas
Caçula: o filho mais novo
Kalunga: rio; mar; a linha que divide o mundo físico e o espiritual; a linha do horizonte no oceano
Minhoca: verme, anelídeo
Bagunça: confusão, desordem
Dengo: manha
Bunda: glúteos, nádegas
Marimbondo: vespa
Aya: samambaia
Xingar: insultar
Malungo: homem
Bamba: valente
Kota: pessoa mais velha
Mironga: feitiço
Agô: pedido de licença
Obá: rei
Quitanda: feira
Fofoca: derivado de afofó, mexerico
Fuxico: boato, intriga
Adié: galinha
Dendê: fruto de palmeira
Malembe: devagar, gentilmente
Egó: iguaria
Canjica: à base de milho, é normalmente oferecida nos óbitos em Angola
Fubá: farinha de milho
Orum: céu
Quitute: comida refinada, petisco
Quiabo: fruto colhido verde
Zamburá: jogo de búzios
Umbanda: medicina à base de ervas
Samba: festa
Cambada: grupo de amigos
Cochilar: dormitar
Orixá: divindade tradicional
Olorum, modupé: Deus, obrigado
Jacutá: altar
Egum: espírito ancestral
Zambi: ser supremo, Deus
Ingoma: tambor
Acarajé: bolo vermelho
Adinkra: adeus
Axé: energia

https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/memoria/exposicoes-temporarias/linguas-africanas-que-fazem-o-brasil

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