Notícia sobre três Ws: dois deles pedindo trocados e comida num farol

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado – 

Relato que envolve três Ws: Washington, jornalista, 63 anos, classe média; Willian, 18 anos, trabalha num semáforo e Wendel, 15 anos, irmãos de Willian, seu companheiro de jornada.

Na pandemia, home office, só saio de casa para exames e consultas médicas, supermercado, banco ou farmácia. Devido aos números nada auspiciosos apontados nos exames médicos,  passei a caminhar todos os dias, com todos os pré-requisitos que o momento exige: máscara, álcool gel e distanciamento de outros caminhantes.




E foi nesta caminhada que conheci meus xarás de W, o Willian e o Wendel. Ambos com cartazes, um pedindo alimento e outro uns trocados.

Willian e Wendel são de uma família de cinco integrantes, somando-se a eles uma irmã pequena, o pai e a mãe. Moram no Grajaú, bairro da Zona Sul da periferia de São Paulo, a 35 quilômetros do local onde resolveram trabalhar, num semáforo quase no final avenida Sumaré, bairro de classe média alta da Zona Oeste paulistana.

Os dois estudam a noite, Ensino Médio. Os manos saem de casa às 4h30 da manhã para chegarem à Sumaré pouco depois das seis, pegando três ônibus e um metrô. “No ônibus, o motorista deixa a gente passar, mas para o Metrô, juntamos moedinhas. Só voltam para casa quando a meta de, por volta, 60 reais é cumprida. Se der o horário da escola, voltam sem o cumprimento da meta.

O pai de Willian Wendel é jardineiro, mas ficou desempregado depois de pegar uma forte gripe. Não era Covid-19, deixa claro, Willian. Mesmo assim os empregadores resolveram demiti-lo.

Sendo assim, só restou aos meninos partirem para a rua, pedindo comida e uns trocados. “Coisa errada”, nem pensar diz Willian.

Recebem os dois, um pouco de cada. De dinheiro, uma média de 40 a 50 reais por dia; de comida, não dá para passar fome.

“Precisamos comer e pagar o aluguel. Já tentei vender balas no farol, mas o dinheiro acabou e não tenho como comprar a mercadoria. Penso em comprar uma bike para trabalhar no aplicativo, mas, até agora, não sobrou dinheiro”, diz Willian, num tom que não cabe bronca com a vida que leva.

Este é o retrato de um cenário extenso na Capital paulista.

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