Nova colônia de pinguins revela impacto da crise climática na Antártica

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Pesquisadores a bordo de navio do Greenpeace localizam espécie em áreas em que não podiam viver antes pelo frio excessivo

Por Oscar Valporto, compartilhado de Projeto Colabora




Colônia de pinguins Gentoo, na Ilha Andersson, no lado leste da Península Antártica: crise climática leva espécie a buscar áreas onde antes era demasiadamente frio para sua reprodução (Foto: Tomás Munita / Greenpeace)

Expedição do Greenpeace encontrou pinguins em áreas da Antártida, onde não podiam viver antes porque estava muito frio. Com as mudanças climáticas aquecendo o continente gelado, os pesquisadores identificaram uma nova colônia de pinguins Gentoo, uma espécie adaptada às águas subantárticas mais quentes, na Ilha Andersson, no lado leste da Península Antártica, onde nunca havia sido registrada.

Os pesquisadores – a bordo do navio Arctic Sunrise, do Greenpeace – descobriram uma colônia de 75 filhotes de Gentoo na ilha, onde até recentemente era muito gelado para essa espécie de pinguim, acostumada a clima mais temperado, criar seus filhotes com sucesso. ““Esta é a crise climática acontecendo bem diante de nossos olhos. Na Antártida, um dos lugares mais remotos da Terra, estamos vendo um processo em que essa espécie de pinguim está se espalhando para um novo habitat e se reproduzindo mais ao sul: uma manifestação biológica da perda de gelo marinho”, afirmou Louisa Casson, dirigente da campanha Protect the Oceans (Proteja os Oceanos), do Greenpeace, em comunicado conjunto divulgado pela ONG e pela Stony Brook University (de Nova York, EUA).

Nesta expedição à Antártica, no Arctic Sunrise, os cientistas estão realizando as primeiras contagens de colônias de pinguins em ilhas remotas no leste da Península Antártica, preenchendo lacunas de dados sobre o status desses animais. “Nesta expedição, estamos pesquisando partes da Península Antártica onde colônias de pinguins foram vistas de satélites, mas nunca exploradas a pé. Mapear esses arquipélagos remotos nos dará uma melhor compreensão de como os pinguins da região estão respondendo às rápidas mudanças climáticas”, explicou a pesquisadora Heather J. Lynch, professora de Ecologia e Evolução da Stony Brook e uma das líderes da expedição.

Pinguins em ilha da Antártica antes evitada pela espécie, que busca nova habitat para reprodução mais ao sul: pesquisadores apontam manifestação biológica da perda de gelo marinho (Foto: Tomás Munita / Greenpeace)
Pinguins em ilha da Antártica antes evitada pela espécie, que busca nova habitat para reprodução mais ao sul: pesquisadores apontam manifestação biológica da perda de gelo marinho (Foto: Tomás Munita / Greenpeace)

De acordo com o Greenpeace, os pinguins são uma espécie ‘sentinela’ – indicando aviso prévio de perigo à vida humana – e também são um ótimo indicador da saúde do ecossistema antártico. No entanto, as aceleradas mudanças no clima e a pesca industrial estão causando um significativo impacto na Antártica. Os ativistas lembram que expedição recente à Antártica constatou o colapso das colônias de pinguins-de-barbicha na Ilha Elefante, algumas em até 77% nos últimos 50 anos.

Os pinguins Gentoo são geralmente encontrados em toda a região subantártica, com as maiores colônias nas Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e partes da Península Antártica. Ao contrário de outras espécies de pinguins que migram para se alimentar ou se reproduzir, os pinguins gentoo ficam no mesmo lugar no verão e no inverno, necessitando de condições climáticas específicas. “Estamos encontrando pinguins gentoo em quase todos os lugares que olhamos – mais evidências de que as mudanças climáticas estão mudando drasticamente a mistura de espécies aqui na Península Antártica”, apontou Heather Lynch, doutora em estatística ecológica e especialistas em pinguins. “Eles são muito oportunistas, então, caso tenham chance, vão colonizar a rocha seguinte à medida que as geleiras recuam”, acrescentou.

Pinguins da espécie Gentoo, acostumada a climas mais temperados, na Ilha Ardersson: gelo da Antártica está derretendo seis vezes mais rápido do que na década de 1970 (Foto: Tomás Munita / Greenpeace)
Pinguins da espécie Gentoo, acostumada a climas mais temperados, na Ilha Ardersson: gelo da Antártica está derretendo seis vezes mais rápido do que na década de 1970 (Foto: Tomás Munita / Greenpeace)

Com a crise climática, o gelo glacial na Antártida vem derretendo em ritmo alarmante: estudo de 2019 constatou que o gelo da Antártica está derretendo seis vezes mais rápido do que na década de 1970. Os pesquisadores acompanham com atenção a Geleira Thwaites, conhecida como a “Geleira do Juízo Final”, devido ao sério risco que representa durante seu processo de derretimento. Esta geleira já despejou bilhões de toneladas de gelo no mar e os cientistas apontam que seu desaparecimento pode levar a mudanças irreversíveis em todo o planeta: se derreter completamente, poderia elevar o nível global do mar em vários metros.

Cientistas e ambientalistas têm defendido o estabelecimento de três novas áreas marinhas protegidas (AMPs) na região da Antártica, que cobririam cerca de 4 milhões de quilômetros quadrados (1,5 milhão de milhas quadradas) de do Oceano Antártico. De acordo com o Greenpeace, essas áreas protegidas são essenciais para ajudar a região a suportar os impactos das mudanças climáticas, bem como a pressão adicional da pesca industrial de krill. “Este deve ser um ano de ação. Os governos precisam concordar com um novo Tratado Global dos Oceanos para fornecer proteção para pelo menos 30% dos oceanos do mundo até 2030 – e devem começar a trabalhar protegendo as águas da Antártida. Pinguins e pessoas de todo o mundo mal podem esperar: precisamos de políticos para fazer a proteção dos oceanos agora”, defendeu Louisa Casson, que lidera a equipe do Greenpeace no Arctic Surise.

Pinguins localizados por cientistas na Antártica: pesquisadores e ambientalistas defendem novas áreas de proteção marinha no continente (Foto: Tomás Munita / Greenpeace)
Pinguins localizados por cientistas na Antártica: pesquisadores e ambientalistas defendem novas áreas de proteção marinha no continente (Foto: Tomás Munita / Greenpeace)

De acordo com a entidade ambientalista, a CCAMLR (Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos), órgão responsável pelas decisões sobre áreas marinhas protegidas, havia estabelecido um prazo até 2012 para configurar a rede de AMPs no continente para proteger os pinguins, mas nada aconteceu em quase 10 anos. “Com essa expedição, esperamos fazer um caso científico mais forte sobre por que essas áreas devem ser protegidas e também aumentar a pressão pública sobre os governos para que eles finalmente cheguem a um acordo e protejam a Antártida como deveria ser e como deveria. foram há muito tempo”, afirmou Casson. O Arctic Sunrise está ainda no meio de sua expedição pelo Mar de Weddell. Além dos levantamentos sobre pinguins-gentoo, os pesquisadores vão examinar serão examinadas as populações de Adélie (Pygoscelis adeliae) e pinguim-de-barbicha (Pygoscelis antarcticus).

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