Nova Economia: Para promover a industrialização, Brasil terá de repactuar com a China

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Apesar de conferir ao Brasil dinamismo no comércio global e ser um importante parceiro, a relação com a China é assimétrica no cenário microeconômico

Por Camila Bezerra, compartilhado de GGN




A esquerda brasileira gosta da China porque o país conseguiu deixar a periferia mundial. A direita é simpática porque lucra com o tigre asiático. Mas será que a parceria comercial com a China, que completa 50 anos em 2024, é realmente benéfica para o Brasil?

Para responder esta questão, o programa Nova Economia da última quinta-feira (26) contou com a participação do professor da UFSCar e doutor em Ciência Econômica pela UNICAMP, Zé Eduardo Roselino, e o professor da UFABC, membro fundador da Rede Brasileira de Estudos da China e membro do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (OPEB), Giorgio Romano.

Roselino ressalta que ambos os países celebram este ano o aniversário de 20 anos de criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Cooperação (Cosban), que representou um marco na relação Brasil e China ao permitir a cooperação, inclusive nos campos científicos e tecnológicos a partir de 2000. 

“Durante os anos 2000 é que as nossas relações com a China ganharam uma dimensão extraordinária, tanto do ponto de vista das relações de comércio, sobretudo, na verdade, do ponto de vista das nossas relações de comércio. A gente hoje tem a China como principal parceiro de comércio do Brasil já há 15 anos”, ressalta o doutor.

No entanto, apesar de ser um importante parceiro comercial, Roselino ressalta que a relação entre os países é assimétrica, pois enquanto no cenário macroeconômico a parceria é “extraordinariamente bem sucedida para o Brasil” e trouxe um dinamismo importante para a economia brasileira, no microeconômico se mostrou desfavorável ao Brasil.  

“De certa forma, [o governo Lula] foi salvo inicialmente por um fator de dinamismo internacional do qual a China responde por grande parte, desse dinamismo das nossas exportações, que ajudou a dar um impulso inicial de crescimento no período do primeiro governo Lula. E também a gente deve, em grande medida, a essa relação com a China com o fato de que o Brasil se livrou da maldição histórica da nossa economia”, continua o professor da UFSCar.

Em contrapartida, o lado qualitativo das relações demonstra que a China é a grande vencedora do processo de globalização, enquanto o Brasil se sobressai entre os perdedores, pois perdeu mercados e não consegue competir com os produtos manufaturados chineses. 

Assimetria

Giorgio Romano corrobora com a análise de Roselino. “O que a gente exporta é soja não processada, petróleo não processado e minério de ferro não processado. Inclusive, no caso da soja, eu sempre imaginava que toda a indústria de processamento seria da empresa chinesa, mas não é. 50% são empresas internacionais. A grande pergunta é por que não tem nenhuma empresa brasileira lá na China?” 

O professor da UFABC ressalta que, apesar de não ter vocação imperialista, a China dificulta alternativas sobre o futuro do Brasil, pois além de almejar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assine o acordo da Nova Roda da Seda (Belt and Road Iniciative), o Brasil é muito generoso ao conceder áreas estratégicas para o investimento estrangeiro, acordos esses que são rejeitados em outras áreas do mundo.

“Estamos entre os cinco países com o maior investimento social e de direitos chineses. E eu avalio que o Brasil, sim, é muito mais importante para a China do que a gente avalia”, ressalta Romano. “Em que país alguém pode simplesmente comprar redes elétricas, transmissão, sem nenhum problema? O Brasil é muito generoso. Sempre foi com os americanos, com os europeus, agora com os chineses”, emenda.

Confira o debate completo na TVGGN:

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