Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
Ao abordar o massacre da Favela Paraisópolis o jornalista Fernando Brito, Tijolaço, lembrou em texto os versos de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos da música “Menino”: “quem cala sobre teu corpo/consente na tua morte”.
É, Fernando, tem gente que se cala, tem quem comemore, mas tem quem se levanta, grita, berra e chora contra mais este massacre a jovens pobres.
O texto do jornalista “Paraisópolis não será enterrada com seus mortos“, me levou a buscar a candente interpretação de Elis Regina, onde seu grito final é como se fosse o grito das nove mães dos massacrados na Paraisópolis.
Fui buscar também de Milton Nascimento, mas neste caso com Fernando Brant, “Coração Civil”, que prega um mundo “Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço (…) Quero a utopia, quero tudo e mais / Quero que a justiça reine em meu país“.
A justiça só reinará em nosso pais quando não houver o silêncio e apoio do cúmplice ao barulho do assassino que prega como pregou um PM em Paraisópolis: “Vai morrer todo mundo”.
Paraisópolis, que nome mais contraditório para o mundo em que vivemos, onde só por nascer pobre, negra, a pessoa já traz pregado na testa o prontuário de criminosa.
Sim, Fernando Brito, tomara que Paraisópolis não seja enterrada com seus mortos. Depende de nós.
Para tanto, temos muito o que lutar para que a utopia vença: “Quero a liberdade, quero tudo e mais / Quero ser amizade, quero amor, prazer / Quero nossa cidade sempre ensolarada / Os meninos e o povo no poder, eu quero ver”
“Menino”, Milton Nascimento e Ronaldo Bastos
Quem cala sobre teu corpo
Consente na tua morte
Talhada a ferro e fogo
Nas profundezas do corte
Que a bala riscou no peito
Quem cala morre contigo
Mais morto que estás agora
Relógio no chão da praça
Batendo, avisando a hora
Que a raiva traçou
No incêndio repetindo
O brilho de teu cabelo
Quem grita vive contigo
Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade dos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu país
Quero a liberdade, quero tudo e mais
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver
São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Bom sonhar coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos do quintal
Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder ?
Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter
Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida
Eu viver bem melhor
Doido pra ver o meu sonho teimoso,um dia se realizar