Por Gustavo Gollo, publicado em Jornal GGN –
Marielle Franco foi executada há quase 8 meses, logo após ter denunciado assassinatos cometidos impunemente por policiais. Mesmo após a estrondosa e surpreendente repercussão do caso, que levou a ONU, o Papa, e dezenas de senadores americanos a cobrar o esclarecimento do crime, as investigações vão se arrastando indefinidamente.
O crime foi desvendado pelo jornal O Globo, em reportagem divulgada em 19 de agosto, quando, exibindo uma intimidade inusitada com os assassinos, os jornais revelaram a rede de matadores profissionais conhecida como Escritório do Crime, uma organização criminosa constituída por policiais e ex-policiais, que teria cobrado R$ 200 mil pelo assassinato de Marielle – a morte do motorista teria ocorrido como efeito colateral. Entre outras minúcias, os jornais informaram que os assassinos teriam cobrado um ágio adicional, em vista da imensa repercussão do caso. Os detalhes sobre a organização criminosa e seus modos de operação revelados de maneira tão minuciosa pel’O Globo nesse artigo, não deixam dúvida sobre a estreita intimidade entre as duas organizações.
O surpreendente vazamento ocorrido no jornal, expondo a intimidade entre a organização criminosa e a Rede Globo, abriu uma enorme brecha nas sucessivas cortinas de fumaça lançadas pela Globo para encobrir todas as evidências da autoria policial do assassinato.
A primeira ação de encobrimento dos assassinos, realizada pela Globo, consistiu em deslocar o foco do assassinato para as notícias falsas veiculadas na internet. A segunda ocorreu quase 2 meses depois, quando a TV Record revelou que a arma do crime havia sido uma submetralhadora de tipo utilizado pelas forças especiais da polícia e apenas rarissimamente por criminosos tradicionais, tornando a levar o foco da suspeita pelo assassinato a policiais. Novamente, 2 dias depois dessa revelação, a Globo tratou de inventar nova cortina de fumaça, dessa vez na forma de uma delação sem pé nem cabeça feita, semanas antes, por um policial que costumava fazer bicos dando cobertura a milicianos – grupos paramilitares que terceirizam e controlam o tráfico de drogas e demais ilícitos nas favelas, áreas desconectadas do poder público e sujeitas a poderes paralelos. Essa cortina de fumaça, a maior delas, deslocou as suspeitas indicando a autoria do assassinato por policiais, para os ex-patrões do ressentido delator – é essa mesma farsa que está sendo, agora, requentada pelo PGR.
Uma terceira tentativa de tirar o foco das suspeitas do duplo assassinato de sobre policiais ocorreu de forma incipiente, com o lançamento de suspeitas ainda mais injustificadas a 3 deputados, já anteriormente queimados em outros casos escusos. A artimanha teve por base a existência e o fomento de rivalidades prévias entre setores da esquerda e as bolas da vez. Esse novo ardil foi abortado incipientemente em vista de sua indiscrição, e substituído por tentativa mais incisiva de cortar o mal pela raiz dando fim ao caso. A solução do problema e garantia definitiva da impunidade dos ilustríssimos assassinos, bem como o de toda a rede de proteção que dá cobertura aos matadores de aluguel componentes do Escritório do Crime, se daria através da retirada das investigações da alçada da polícia do Rio de Janeiro e seu “prosseguimento” no âmbito federal, onde a farsa investigativa se estenderia por longos meses, talvez anos, para acabar sem nenhum resultado, imputando a culpa do malogro à ineficiência da investigação inicial, incapaz de ter solucionado o caso tempestivamente.
O descaramento de tal ação não teria passado em brancas nuvens, quando pressões externas contrabalançaram as ações da fortíssima rede de cobertura dos veneráveis assassinos, garantindo a continuidade das investigações.
Chega a público, agora, nova tentativa de abafamento do caso. Baseados nas suspeitas pífias forjadas pelos que fabricaram a segunda cortina de fumaça descrita acima, PGR e governo federal, através da polícia federal, passam agora a investigar os investigadores do caso, com o propósito de pressioná-los, e impedi-los de expor a rede de proteção que até agora tem garantido não só a impunidade, mas total privacidade, conforto e discrição aos digníssimos assassinos.
Impaciente, a PGR entra de sola no caso, encarregando-se de substituir a fumaça que a Globo vinha espargindo nele por gás lacrimogêneo.