Um estudo publicado pela Associação Americana de Psicologia em agosto, baseado (ops!) no acompanhamento de 408 rapazes da adolescência aos 30 anos, chegou à conclusão de que o uso regular de maconha não está associado a posteriores problemas mentais e físicos como depressão, câncer, sintomas psicóticos ou asma.
Os próprios pesquisadores da Universidade de Pittsburgh Medical Center e da Rutgers University, responsáveis pelo estudo, se surpreenderam com os resultados. “O que achamos foi um pouco surpreendente”, disse o coordenador do trabalho, Jordan Bechtold, da Universidade de Pittsburgh Medical Center. “Não há qualquer diferença entre a saúde mental e física antes e depois, pouco importa a quantidade ou a freqüência do uso de maconha durante a adolescência.”
A descoberta é importante porque um estudo anterior, logo desqualificado, associava o uso da maconha entre adolescentes à queda de QI e às notas ruins na escola. Outros estudiosos também apontaram o desenvolvimento de sintomas psicóticos (alucinações, delírios etc.), câncer, asma ou problemas respiratórios em usuários de maconha adolescentes, mas os pesquisadores não acharam nada.
O estudo também não encontrou relação entre o uso de maconha por adolescentes e depressão, ansiedade, alergias, dores de cabeça ou aumento da pressão arterial. A diferença entre esta pesquisa e as outras, segundo Bechtold, é que é uma das poucas que acompanharam centenas de participantes por mais de duas décadas em busca dos efeitos do uso de maconha entre adolescentes para a sua saúde ao longo da vida.
A pesquisa é uma ramificação do Estudo da Juventude de Pittsburgh, que começou acompanhando estudantes do sexo masculino de 14 anos das escolas públicas da cidade, no final dos anos 1980, para analisar vários aspectos sociais e de saúde. Durante 12 anos, os participantes eram entrevistados anualmente ou semestralmente, e um questionário foi apresentado aos 408 participantes entre 2009 e 2010, quando tinham 36 anos de idade. 54% dos participantes eram negros, 42% brancos e 4% de outras raças ou etnias. Tampouco houve diferenças nas conclusões de acordo com raça ou etnia.
Os participantes foram divididos em quatro grupos, sob o critério do uso de maconha: fumavam pouco ou não-usuários (46%); usuários regulares desde o início da adolescência (22%); participantes que fumaram maconha apenas na adolescência (11%) e aqueles que começaram a fumar maconha mais tarde e continuavam usando (21%). Os que começaram muito cedo disseram fumar maconha até 200 dias por ano quando chegaram aos 22 anos. E algo bastante comum: o uso de maconha foi declinando quando ficaram mais velhos.
Os pesquisadores controlaram outros fatores que pudessem influenciar o estudo, como o uso de cigarros e outras drogas ilícitas, além do acesso à saúde. Como só foram incluídos meninos, não há conclusões sobre as mulheres usuárias. “Queremos ajudar o debate sobre a legalização da maconha, mas é um assunto muito complicado e uma só pesquisa não pode ser considerada isoladamente”, Bechtold advertiu.
Leia a íntegra do estudo aqui. Leia também: estudo aponta que não houve aumento do consumo entre adolescentes nos Estados norte-americanos onde a maconha foi legalizada (aqui).
Com a descriminalização do porte de drogas para uso pessoal prestes a ser votada pelo Supremo Tribunal Federal, a Associação Brasileira de Psiquiatria já se posicionou contrária, mas outros psiquiatras e médicos se mostram favoráveis à descriminalização, apesar da opinião da ABP. Curiosamente, a Associação já pensou diferente no passado. O que será que fez a ABP mudar de ideia e retroagir em vez de avançar?