Num ônibus sem trocador, a culpa é do motorista

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Ana Helena Tavares no Facebook – 

Entro no ônibus, sem trocador. O motorista tem que dar o troco andando e se esquece de abrir a porta num ponto. Gritos lá atrás: “Olha o ponto!” Ele termina de me dar o troco e abre a porta. Vou sentar.




Uma mulher se vira pra mim e esbraveja: “Esses motoristas sãos uns merda. Se fosse comigo e ele não abrisse a porta eu ia rodar a baiana”.

Viro pra ela e digo: “A senhora faria melhor se fosse rodar a baiana na empresa, reclamando por ele não ter trocador. A culpa não é dele. Ele não tem ninguém pra auxiliá-lo. E, além de tudo, deve estar exausto. Os motoristas de ônibus são das classes mais exploradas”.

A mulher não se conforma: “Claro que a culpa é dele. O Brasil está assim por causa de gente como você (referindo-se a mim) que passa a mão na cabeça das pessoas. Vá você à empresa”, ela me diz.

E eu digo: “Já fui a várias. Sei o quanto eles são explorados”.

Foi aí que a mulher me saiu com a pérola: “Então, que escolhessem outra profissão. Trabalham nisso porque querem”.

Fiquei imaginando o quanto deve ser agradável pra eles aquela “escolha” e descobri, finalmente, que nem tudo no Brasil é culpa dos 13 anos de PT. Num ônibus sem trocador, a culpa é do motorista.

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