Números e contextos

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Por Claudio Lovato Filho, jornalista e escritor – 

Oitenta e cinco pessoas não são suficientes para lotar o nosso Teatro de Arena, ali nos altos do Viaduto da Borges. Nele cabem 110 pessoas. Oitenta e cinco é quase o total de assentos do Cine Bancários, na General Câmara, que pode receber 83 apreciadores da sétima arte. Quando 85 pessoas viajam num Boeing 737-700, ainda ficam sobrando 29 poltronas. Dois ônibus convencionais da Itapemirim acomodam 85 pessoas. Segundo a Oxfam International, confederação fundada em Oxford, na Inglaterra, que atua em mais 100 países e age no combate à fome e busca soluções para a redução da desigualdade social, as 85 pessoas mais ricas do mundo têm mais dinheiro que a metade mais pobre da população mundial. De acordo com essa mesma Oxfam, que congrega 13 organizações e conta com mais de 3 mil parceiros, o mundo terá, em 2016, o 1% mais rico da população (37 milhões de pessoas) com mais dinheiro em mãos do que os outros 99%.

Paremos um pouco aqui, neste exato ponto. Proponho que releiamos com calma os números que estão nas linhas anteriores. (Façamos isso agora.) Certo. Vamos em frente. Não sou economista. Longe disso. Nos meus tempos de redação de jornal, eu ficava feliz quando conseguia escapar das pautas de economia. Mas sempre me dediquei, à minha maneira, a entender os contextos, desde os meus primeiros dias de redação de jornal, e, antes disso, desde as minhas primeiras tentativas de compreender alguma coisa do mundo em que vivo. Governos que não combatem de forma verdadeira e eficiente a desigualdade sequer merecem ser chamados de governos.




Quem não investe na melhoria das condições de vida dos mais pobres, dos miseráveis não investe na melhoria da sociedade como um todo e, portanto, não está interessado no verdadeiro desenvolvimento; está, na melhor das hipóteses, cumprindo um mandato; ignora o que mais interessa no processo de crescimento econômico, aquilo que deveria ser seu objetivo final: a melhoria do bem-estar das pessoas. De todas elas.

Texto publicado originalmente no jornal “Fala Bom Fim”, de Porto Alegre, em agosto de 2015.

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