O absurdo de expor crianças ao ódio fundamentalista nos protestos

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Por Kiko Nogueira, Diário do Centro do Mundo – 

— Pai, por que a mãe daquele menino está ensinando ele a mandar a Dilma tomar no c…?




Antônio, meu filho, tem 11 anos. Como acontece todo domingo, pegamos nossas bicicletas para dar uma volta. A Paulista, por volta do meio dia de domingo, dia 16, estava começando a encher.

Chamava a atenção o número de famílias com crianças. Clima de piquenique, exceto que os garotos e garotas estavam sendo expostos a uma explosão de ódio.

Uma meia dúzia de jovens, por exemplo, carregava um estandarte com os dizeres: “Dilma, decida: Jânio ou Getúlio” (a pontuação é por minha conta; no original é dilma decima jânio ou getúlio). Gritavam palavrões enquanto marchavam.

O que significa isso? Ou ela sai por bem ou dá um tiro no coração?

Uma senhora fofa empunhava um cartaz no qual se lia: “Dilma, pena que não te enforcaram no Doi Codi?”

O termo carnacoxinha foi usado para definir essas manifestações. É pouco acurado. Está mais perto de uma micareta do mal, repleta de gente orgulhosa de sua ignorância e maldade.

Estão criando uma geração de pessoas odientas e preconceituosas que acha normal vomitar impropérios sobre aquela velha terrorista e o bêbado barbudo. Júnior não pode falar cocô no jantar, mas ganha um iPhone novo quando faz versinhos sujos sobre Lula e o PT. Tio Marlon e tia Patrícia acham lindo.

Esses meninos precisavam ser salvos desses monstros.

Em fevereiro, o biólogo britânico Richard Dawkins, ateu militante, afirmou que filhos de pais fundamentalistas deveriam ser protegidos na Irlanda.

“Eles devem ser ensinados a pensar por si mesmos”, disse. “Tradição é uma coisa boa quando se fala em música ou literatura, moda ou arquitetura. Mas a tradição é uma base terrível para a ética”.

Ao apoiar uma campanha para reformar o sistema educacional irlandês, foi além. “Você tem que equilibrar os direitos dos pais e os direitos dos filhos e eu acho que o saldo oscilou demais em favor dos pais. As crianças precisam ser preservadas de modo a não ser doutrinadas”.

É difícil prever o que vai acontecer com as crias dos coxas, mas você não precisa ser especialista para saber que aquilo é uma espécie de curso de maus modos e de como virar um ressentido e um proto fascista.

Ensinar o medo e a raiva não é algo que necessite de lições ou manuais. Adultos podem simplesmente transmitir esse sentimento através de piadas e xingamentos. As crianças querem se encaixar naqueles círculos sociais, ser aceitas, e vão simplesmente imitar o que vêem e ouvem.

Mamãe e papai sentem orgulho de perceber que os pequenos são como eles. Os garotinhos ficam felizes ao notar que, repetindo o discurso de ódio, recebem em retorno alegria e reconhecimento dos mais velhos. Que tipo de sujeito acha legal levar as crias para ver uma pessoa como Marcello Reis ser aclamada num carro de som?

O que os coxas cometem com seus filhos nesses ambientes vai assombra–los no futuro.

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