Mário Serapicos foi um amigão. Levou-me para trabalhar com ele na revista “Náutica”, quando era editada pela Abril. Fez a cabeça do redator-chefe, Jorge de Souza, para que me convidasse. Depois, insistiu com Celso Kinjô para me abrir as portas do “Jornal da Tarde”. Acabei titubeando e não fui. Quando decidi topar, o cargo já havia sido ocupado.
Por Walterson Sardenberg, compartilhado de Construir Resistência
Mário ficou puto comigo. Brigou.
Ele era assim, parça, altruísta, generoso. Podia ser briguento — jamais egoísta.
Na sexta-feira, dia 23, sofreu uma trombose pulmonar. Morreu, aos 66 anos, o criador da estrelinha do PT, o queridinho das moças, o militante político, o cara que adorava uma polêmica, o santista fanático, o jornalista bom de texto e de apuração, que trabalhou em “Veja”, “Náutica”, “Quatro Rodas”, “Placar”, “Jornal da Tarde”, “Folha da Tarde” e “Jornal do Brasil” — devo ter esquecido de uma meia dúzia de veículos.
No velório, no domingo, seu filho mais velho, o doce Gabriel, caminhou até o esquife e o decorou com uma garrafa de Johnny Walker, um exemplar de “Cem Anos de Solidão” (Gabriel García Marquez era o autor preferido do pai) e uma bandeira do Santos. Lembrei-me de Quincas Berro D’Água.
Gabriel não se esqueceu do réquiem: uma caixinha de som fazia soar “Street Fighting Man”, com os Rolling Stones.

Walterson Sardenberg é jornalista
Nota do editor Simão Zygband – conheci o Mário Serapico e ele era este cara simpaticão, boa praça, de temperamento forte. Conta a lenda (real, inclusive) que ele é um dos criadores da Estrela do PT. Transcrevo abaixo um.texto existente sobre o episódio no site da Fundação Perseu Abramo, que chancela esta autoria;
A bandeira e o Domec
Você acredita que a estrela e a bandeira do PT nasceram de uma brincadeira, na mesa de um bar, em São Bernardo?
Em 1980, no final de uma cansativa reunião do PT, para organizar um ato contra a LSN (na Vila Euclides), Mário Serapicos, Augusto Portugal e eu, entre goles de Domec (naquela época só o grupo do ABCD Jornal bebia Domec), avaliando os detalhes para o evento, sentimos a falta de algo diferente, aquele toque a mais. Uma bandeira! É isso. Um guardanapo, uma caneta e alguns rabiscos.
– Tem de ser vermelha, claro!
Você acredita que a estrela e a bandeira do PT nasceram de uma brincadeira, na mesa de um bar, em São Bernardo?
Em 1980, no final de uma cansativa reunião do PT, para organizar um ato contra a LSN (na Vila Euclides), Mário Serapicos, Augusto Portugal e eu (Julinho de Grammont), entre goles de Domec (naquela época só o grupo do ABCD Jornal bebia Domec), avaliando os detalhes para o evento, sentimos a falta de algo diferente, aquele toque a mais. Uma bandeira! É isso. Um guardanapo, uma caneta e alguns rabiscos.
– Tem de ser vermelha, claro!
– Peraí. Tem de ser vermelha, branca e preta.
– Por quê? Questionou Marinho Proposta (chamado assim porque sempre tinha proposta pra tudo). Dos três, eu e Augusto éramos torcedores do São Paulo. Mário perdeu, mas em compensação, queria que ao centro da bandeira aparecessem a foice e o martelo. Bateu o pé.
– Uma estrela branca, no centro da bandeira, propus.
– Coisa de viado, alguém disse.
Quando expliquei que tinha lido num daqueles livros sebosos que circulavam no presídio Tiradentes, em 1971, que a estrela era o símbolo da juventude comunista da Albânia (vejam só!), todos toparam.
Como secretário-geral do PT, falei ao Expedito Soares, então presidente, e ele também topou. Decidimos que cada um dos 47 núcleos do partido (bons tempos), levaria uma bandeira e uma outra, de 15 metros quadrados, seria colocada nas arquibancadas do Vila Euclides.
Levei a idéia ao Lula, mas a surpresa maior ficou para o dia do ato, uma passeata de mulheres com mais bandeiras, lembrando cenas do filme Red.
Sabemos, porém, que esta história tem outras versões. Uma delas virou manchete de jornais, quando Lula, tentando explicar o vermelho, teria feito uma analogia com o sangue de Cristo. Pode ser.
Ou então, que a estrela nasceu, quando um operário olhou para o céu do ABC e viu uma estrela com um brilho diferente, como que indicando um caminho. Pode ser também. O Zé acha que viu o Perseu fazendo seus primeiros contornos. Quem sabe?
Hoje a bandeira não é mais tricolor. Por sugestão do Frei Betto, tiramos a cor preta (lembrava a bandeira sandinista) e, como ele mesmo enfatizou, “o vermelho representa a luta e o branco a paz”. Perfeito, o PT luta pela paz.
Hélio Vargas (falecido e um dos pais do João Ferrador e do Sombra), ilustrador do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, fez os primeiros desenhos da estrela, que na época ainda tinha contornos retos, me perguntou: Por que ela tem cinco pontas e não quatro?
– Se tivesse três pontas, lembraria a Mercedes Benz. Se tivesse quatro, lembraria os brinquedos Estrela. Se tivesse seis, lembraria os judeus. Mas com cinco, lembra Lampião, Che Guevara, Juventude…, disse (a primeira estrela do PT está na chácara Tara, perto de Peruíbe).