O admirável mundo sem partidos dos “coxinhas da esquerda retrô”

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Por Fábio de Oliveira Ribeiro, publicado no Jornal GGN – 

Hoje o MPL retomou as manifestações de rua visando a redução das tarifas de trem, metrô e ônibus em São Paulo. Na sua página no Facebook, o movimento se diz apartidário, autônomo e horizontal tendo como único objetivo a luta pelo passe livre, que segundo o MPL seria diferente do passe gratuito (https://www.facebook.com/MovimentoPasseLivrempl/info?tab=page_info).




Sou usuário de transporte público e tenho alguma simpatia pelo movimento, mas não me sinto tentado a ir às passeatas. Além disto, não consigo entender as limitações deste movimento. De que adianta reunir tanta gente na rua a oportunidade não será utilizada para discutir outros temas importantes ao cotidiano paulista, como: falta de água, salários baixos no serviço público e nas empresas privadas, custo absurdo do impulso de celular e a péssima qualidade dos serviços prestados pelas operadoras de celular, isto para não citar a necessidade de regulação da mídia que quase sempre criminaliza movimentos de rua como o próprio MPL. Não lembro de ter visto o MPL apoiando os motoristas e cobradores de ônibus quando eles faziam greve por melhores salários.

A luta política numa sociedade partidarizada não deveria ser apartidária. Quando um movimento se dissocia da política, sua atitude se aproxima do fascismo ou pode ser utilizado pelo mesmo. Foi o que ocorreu com o MPL há 2 anos, quando o movimento foi infiltrado por radicais de direita que tentaram destruir a fachada da Prefeitura de São Paulo e o Itamaraty em Brasília. Que autonomia tem um movimento que pode ser facilmente desvirtuado por quem tem agendas muito diferentes?

O MPL se diz horizontal, mas não tenho visto os manifestantes deitados nas ruas. Independência é um valor importante em qualquer movimento. Mas na verdade o MPL só reage ao aumento das tarifas e, portanto, depende totalmente das ações governamentais. Sem aumento, o movimento vira uma inércia. Apesar de defenderem o “passe livre”, os membros do MPL aceitaram passivamente a tarifa de 3 reais por mais de dois anos. O que impediu os manifestantes de ir às ruas durante as eleições?

Há algum tempo a esquerda cunhou a expressão “coxinha” para ofender os militantes da direita. Em razão de suas contradições, o MPL parece ter originado os “coxinhas da esquerda retrô”. Os membros do MPL detestam partidos como os fascistas italianos dos anos 1920, mas não querem ser chamados de fascistas. Eles limitam suas reivindicações como se todas as outras demandas sociais tivessem sido atendidas. Atacam prefeitos e governadores, mas durante eleições ficam em casa ou fazendo propaganda para seus candidatos. Exigem solidariedade das autoridades e não se solidarizam com trabalhadores do setor de transporte. Os “coxinhas da esquerda retrô” renovam a reindicação de passe livre, mas não explicam porque aceitaram pagar tarifa nos últimos anos.

Em São Paulo, o prefeito tem tentado enfrentar a máfia das empresas de transporte. Ao invés de fortalecer sua autoridade, o MPL vai às ruas para enfraquecer Haddad. Por mais que se diga independente, o movimento faz o jogo da oposição comprometida com o aumento das tarifas.

A política feita sem partidarização é incapaz de redefinir a relação de forças na arena partidária. No limite a atividade pública do MPL abre caminho para o fascismo ou apenas cria confusão, fragiliza o poder público e fortalece aqueles que se apropriam do movimento para realizar agendas diferentes da dos manifestantes. Os “coxinhas da esquerda retrô”  parecem não se preocupar com nada disto. Eles querem dominar as ruas, querem confrontar a PM como se o poder não fosse algo encastelado dos dois lados das mesmas.

 

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