Compartilhado da Revista Arara –
Mário Quintana, gaúcho, foi poeta, tradutor e jornalista. Mestre da palavra, do humor e da síntese poética, em 1980 recebeu o Prêmio Machado de Assis da ABL e o Prêmio Jabuti em 1981. Seus poemas e frases circulam livremente nas redes sociais mantendo viva a memória e o encanto de sua obra.
Poema
O grilo procura
no escuro
o mais puro diamante perdido.
O grilo
com as suas frágeis britadeiras de vidro
perfura as implacáveis solidões noturnas.
E se o que tanto busca só existe
em tua limpida loucura
-que importa?-
isso
exatamente isso
é o teu diamante mais puro!
Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
A Rua dos Cataventos
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!… E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons… acerta… desacerta…
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas…
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço…
Pra que pensar? Também sou da paisagem…
Vago, solúvel no ar, fico sonhando…
E me transmuto… iriso-me… estremeço…
Nos leves dedos que me vão pintando!
“Amar é mudar a alma de casa.”
(Mario Quintana)
Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
Da indulgência
Não perturbes a paz da tua vida,
Acolhe a todos igualmente bem.
A indulgência é a maneira mais polida
De desprezar alguém.
Das utopias
Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
Da contradição
Se te contradisseste e acusam-te… sorri.
Pois nada houve, em realidade.
Teu pensamento é que chegou, por si,
Ao outro polo da Verdade…
Biografia
Mário Quintana nasceu em 1906 na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, no dia 30 de julho de 1906. Em 1919 mudou-se para Porto Alegre e ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre, em regime de internato. Nessa época, publicou seus primeiros versos na revista literária dos Alunos do Colégio Militar.
Em 1926 ficou órfão de mãe. Nesse mesmo ano, Quintana foi premiado em um concurso de contos do jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre, com o conto “A Sétima Passagem”. No ano seguinte seu pai faleceu.
Mário Quintana não se casou nem teve filhos. Solitário, viveu grande parte da vida em hotéis: de 1968 a 1980, residiu no Hotel Majestic, no centro histórico de Porto Alegre, de onde foi despejado quando o jornal Correio do Povo encerrou temporariamente suas atividades por problemas financeiros, Quintana, sem salário, deixou de pagar o aluguel do quarto. Na ocasião, o comentarista esportivo e ex-jogador da seleção Paulo Roberto Falcão cedeu a ele um dos quartos do Hotel Royal, de sua propriedade. A uma amiga que achou pequeno o quarto, Quintana disse: “Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas”.
Essa mesma amiga, contratada para registrar em fotografia os 80 anos de idade de Quintana, conseguiu um apartamento no Porto Alegre Residence, um apart-hotel no centro da cidade, onde o poeta viveu até sua morte. Ao conhecer o espaço, ele se encantou: “Tem até cozinha!”. Em 1982, o prédio do Hotel Majestic, que fora considerado um marco arquitetônico de Porto Alegre, foi tombado. Em 1983, atendendo aos pedidos dos fãs gaúchos do poeta, o governo estadual do Rio Grande do Sul adquiriu o imóvel e transformou-o em centro cultural, batizado como Casa de Cultura Mário Quintana. O quarto do poeta foi reconstruído em uma de suas salas, sob orientação da sobrinha-neta Elena Quintana, que foi secretária dele em 1979 a 1994, quando ele faleceu. Segundo Mário, em entrevista dada a Edla Van Steen em 1979, seu nome foi registrado sem acento. Assim ele o usou por toda a vida. Faleceu em 1994 aos 87 anos em Porto Alegre. Encontra-se sepultado no Cemitério São Miguel e Almas em Porto Alegre. Em 2006, no centenário de seu nascimento, várias comemorações foram realizadas no estado do Rio Grande do Sul em sua homenagem.
Em sua longa carreira literária, Mário Quintana publicou cerca de quarenta obras. Entre elas destacam-se os livros de poesias Sapato florido, Antologia poética e Baú de espantos. Escreveu também os livros infantis Pé de Pilão e Lili inventa o mundo. Algumas de suas crônicas estão reunidas em Na volta da esquina.
Traduziu para o português obras de grandes escritores da literatura mundial como Virgínia Woolf, Voltaire, Somerset Maugham, Proust e Balzac.
Manteve por quase quinze anos uma coluna diária no “Caderno H” do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. Tem poemas publicados em vários países.
Seus versos impregnados de ternura, melancolia, misticismo e nostalgia da infância são ao mesmo tempo simples e profundos, surpreendendo e cativando o leitor
Essas qualidades fazem de Mário Quintana um dos poetas mais populares e queridos da moderna literatura brasileira.
(Fonte: Wikipedia\Escola Britannica\eBiografia)