Por Claudio Lovato Filho, Museu da Pelada –
Pode acreditar: ontem, quando cheguei ao estádio para a minha apresentação no meu novo clube, demorei para responder quando um repórter me perguntou em quantos times eu já havia jogado.
O cara perguntou de repente, tive que fazer um esforço, acho que ele teve até vontade de rir. Ainda bem que era uma entrevista para jornal, porque se fosse para TV ou para o rádio, num programa ao vivo, eu estaria sendo chamado de comédia, teria virado piada.
Foram 14 clubes.
É, 14.
Saí de casa com 16 anos. Assinei meu primeiro contrato como profissional aos 18. Faço 35 daqui a dois meses. Rodei muito.
Pois é. O meu décimo quinto clube. Fechamos um contrato de dois anos, coisa rara para um jogador da minha idade. Eu tenho sorte. Mas também tenho meus méritos: sempre me cuidei, sempre agi com profissionalismo, nunca me meti em roubada, esquemas para derrubar técnico, essas coisas. Só me preocupei em jogar bola para quem estivesse pagando o meu salário.
Hoje, o Caio Lúcio, meu filho mais velho, me perguntou:
– Pai, você sente a mesma coisa por todos os clubes em que jogou?
Aquela pergunta me perturbou, confesso. Pensei nas minhas entrevistas de apresentação, sempre com beijo nos escudos, pensei nas minhas comemorações de gol com a batida de mão aberta no peito.
– Mais ou menos, filho.
Ele não se deu por satisfeito.
– Mas o seu primeiro clube foi o mais importante, não foi?
Fiquei olhando para a TV enquanto ele aguardava a minha resposta.
– O mais importante foi o que veio antes do primeiro! O time lá do bairro. Depois de lá virou outra coisa! – eu disse, sem pensar muito.
– O time do vô Alberto?
– É. O vô Alberto organizava tudo.
Senti a garganta apertar.
– Quando você parar, você podia organizar um time pra mim, não podia? Que nem o vô Alberto fez pra você? – ele perguntou.
De repente, naquele exato instante, eu me convenci de que queria fazer aquilo mais que qualquer outra coisa na minha vida.
– Então, ué! – eu disse.
– Ué! – ele disse, e batemos as mãos, num “cinco” bonito.
Nosso papo, nossos códigos. Eu e o velho Alberto também tínhamos os nossos. Tudo tão diferente e, ao mesmo tempo, tão igual. Nostalgia e expectativa, sempre se revezando. Derrotas e voltas por cima. A próxima chance! Arrependimentos e autocongratulações. Passado, presente e futuro no mesmo pacote. A vida.
Foto: Max Rocha