O apagão como “obra divina”

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Se um alienígena chegasse a estas plagas e deparasse com a cobertura da imprensa comercial sobre o apagão de São Paulo, ficaria com a impressão de que centenas de milhares de pessoas permanecem nas trevas, depois de cinco dias de uma tempestade, devido aos desígnios de Deus.

Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog




Manifestação do MTST na sede da Enel – Foto: Comunicação MTST

Como o neoliberalismo encara as privatizações como uma crença acima do bem e do mal, os veículos de comunicação, porta-vozes que são dos setores que têm ojeriza ao Estado, se negam a ir ao xis do problema. 

Falam dos prejuízos que o breu traz aos comerciantes que veem suas mercadorias perecerem, da carne que estraga nas geladeiras das casas, do caos no trânsito causado pelo não funcionamento dos sinais, da sensação de insegurança que a escuridão provoca nos moradores e transeuntes. Cobrem até os protestos de rua da população.

Mas, em hipótese alguma, abordam a origem do mal: o programa de privatização selvagem da era tucana. O golpista Temer e Bolsonaro seguiram o mesmo ideário de demonizar tudo que é publico, pavimentando o caminho para a entrega do patrimônio que é de todos.

Não que os setores progressistas da sociedade devam adotar uma postura dogmática e avessa a discussões a respeito de processos de concessão. É preciso ver se é serviço essencial ou não e se é área estratégica para o país. Em vários casos inclusive as parcerias público-privadas são bem-vindas

Contudo, no afã de fazer negócios bilionários e desidratar o Estado, a direita e a extrema-direita costumam se lixar para o interesse público quando transferem para a iniciativa privada empresas e serviços essenciais que, na medida em que são submetidos ao critério prioritário do lucro, mola mestra do sistema capitalista, inevitavelmente perdem qualidade e abrangência.

Examinemos o caso da Enel, empresa italiana que arrematou a estatal paulista Eletropaulo em 1998, cujo apagão após o temporal de  São Paulo da última sexta-feira atingiu mais de 4 milhões de pessoas em todo o estado.

Que interesse público pode haver na decisão de uma concessionária de demitir a rodo, reduzindo o quadro de funcionários de 23,8 mil para 15,3 mil?

Qual o interesse público em se descumprir um dos principais pontos do contrato de concessão, o enterramento de fios e cabos, para protegê-los de tempestades e ventanias. Atrasadas em anos, essas obras são de responsabilidade da prefeitura, mas a Enel cruza os braços e não pressiona o Executivo municipal.

Qual o interesse público em não se cumprir integralmente a meta de universalização da distribuição?

Que interesse público está presente na decisão da Enel de não assumir o ressarcimento do prejuízos dos consumidores, sinalizando com uma vaga “análise caso a caso”?

Que interesse público existe na atuação de agências reguladoras, quase sempre lenientes com as empresas e rigorosas com usuários e consumidores?

E pensar que o governador Tarcísio de Freitas, sob pau e pedra, ainda insiste em privatizar a Sabesp, grande empresa de saneamento. 

Tenho esperança, porém, de que a sociedade barre mais essa aventura privatista irresponsável, que penaliza a população.

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