O apreço por ditadores e aversão pela Cultura

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Por Simão Zygband, compartilhado de Construir Resistência

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), resquício equivocado do bolsonarismo que os eleitores paulistas permitiram colocar no poder em São Paulo, promulgou nesta semana uma lei que homenageia o coronel Erasmo Dias, uma figura de triste memória que conseguiu destaque por sua truculência  durante a ditadura militar.




Tarcísio de Freitas e Erasmo Dias

Erasmo Dias ganhou notoriedade por ter sido secretário de Segurança Pública de São Paulo de 1974 a 1979 (no governo do “insuspeito” Paulo Maluf) e comandar a invasão na PUC de São Paulo em setembro de 1977, uma das últimas grandes operações do regime militar (1964-1985) contra o movimento estudantil. Na ocasião, estudantes realizavam um ato público em prol da reorganização da UNE (União Nacional dos Estudantes).

A ação resultou na detenção de 854 pessoas, que foram encaminhadas ao Batalhão Tobias de Aguiar. Dentre elas, 92 foram fichadas no Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo) e 42 foram processadas com base na Lei de Segurança Nacional, acusadas de subversão. Alguns estudantes foram queimados pelas bombas de efeito moral disparadas pelos policiais, sob as ordens de Erasmo Dias, dentro do campus da PUC. Uma total arbitrariedade.

E é exatamente esta figura de triste memória que o governador bolsonarista homenageia assinando lei que denomina como Erasmo Dias um entroncamento localizado em Paraguaçu Paulista, cidade natal do homenageado. Em outro episódio lamentável, o governador turista queria vetar o nome do educador Paulo Freire para denominar uma estação de metrô. Preferia chamá-lo como Fernão Dias.

Lourenço Diaféria

No ano passado, um outro aliado de Jair Bolsonaro, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, vetou um projeto de lei que alterava o nome da praça ministro Alfredo Buzaid, localizada no Itaim Bibi, para Lourenço Carlos Diaféria.  O espaço hoje homenageia o ministro que ocupou a pasta da Justiça no período mais linha dura da ditadura de Emílio Garrastazu Médici. Buzaid foi um dos mentores intelectuais e autor do Ato Institucional nº 5 (AI-5), instrumento quer permitiu maior repressão à oposição, ocasionando assassinatos e prisões arbitrárias, além do fechamento do Congresso Nacional.

Um projeto de lei de autoria do vereador Eliseu Gabriel (PSB) propôs que a praça levasse o nome de Lourenço Diaféria, escritor e cronista preso pelos militares após criticá-los em coluna publicada no jornal Folha de S.Paulo intitulado “Herói Morto. Nós”. O prefeito bolsonarista, em seu veto, A substituição do nome do ministro da Justiça da ditadura militar pelo do cronista de São Paulo foi aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal, cujos vereadores, mesmo de situação, reconheceram o valor histórico da obra de Lourenço Diaféria para a cidade.

Em seu veto, o bisonho prefeito Ricardo Nunes afirma que a mudança de nome de vias e logradouros públicos só é possível se a autoridade for condenada por crimes de lesa-humanidade ou graves violações de direitos humanos. “Não é o caso de Alfredo Buzaid”, afirma o ignaro alcaide. Argumento pífio e tosco para vetar o nome do cronista e manter de um atuante membro da ditadura militar.

Governador e Prefeito de São Paulo, dois resíduos tóxicos do bolsonarismo, que preferem o culto de ditadores a educadores e cronistas, certamente se baseiam na máxima de outro ditador que presidiu o país, o general João Batista Figueiredo, que disse que preferia “o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo”.

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