O Arquiteto “UBERnista” e a passageira estressada: “passa ele, moço!”

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O Bem Blogado aciona, novamente, o aplicativo do Uber do arquiteto Sérgio AR Pereira, autor do livro “Arquiteto & UBERnista”.

O arquiteto urbanista, trabalhou como motorista de aplicativo entre 2017 e 2019.




 No livro, o profissional transporta os leitores a um mundo de ambiguidades, coincidências, autoritarismo e – por que não? – humanismo.

Nesta edição, Sérgio viaja com uma passageira bem estressada. Ah, e não se estresse: o percurso (texto) é um pouco longo, mas vale a pena. E veja no final do texto como adquirir o livro “Arquiteto & UBERnista”

Por Sérgio AR Pereira, arquiteto e urbanista que foi UBERnista

Estresse  é um estado emocional com componentes biológicos que leva o ser humano a ter percepções errôneas sobre si ou sobre situações cotidianas, ou a ter sintomas indesejáveis de doenças que não existem realmente.

Eu, por exemplo, já passei uma noite em um hospital no bairro de Higienópolis investigando um infarto que não se confirmou. Tive to dos os sintomas.

Tudo isso para dizer que já havia transportado o estresse anteriormente. Eu e meu próprio e marcante estresse que me levou a ficar  uma semana longe de minhas atividades cotidianas.

E voltando ao “estresse em pessoa”, a moça que transportei en trou no carro dizendo que tinha de chegar logo ao seu destino, que tinha pouco tempo e eu precisava correr.

Perguntei-lhe qual era o seu  horário e vi, com sua resposta, que tínhamos folga e tempo suficiente. Não se tratava de um atraso real, mas sim de um intenso estresse que a levava a uma disputa inconsciente com tudo que estivesse à sua frente ou ao seu redor.

Eu mal comecei o trajeto e ela já foi manifestando-se quanto aos outros carros falando coisas como: “Não deixa ele entrar na nossa fren te, não deixa, não deixa”.

E eu deixei o carro passar, pois ele estava saindo da vaga junto ao meio-fio para o leito da rua e assim que entrou  em nossa frente o sinal (semáforo, sinaleira, farol etc.) fechou e ficamos parados esperando o verde, como ficaríamos de qualquer maneira.

O trânsito voltou a andar e ela veio com uma nova frase: “Passa ele, moço, passa ele, moço, passa ele, moço, vai que dá, moço, poxa vida”. Exatamente assim, com um jeito intolerante e estressado de ser  que causava espanto. “Vai pra esquerda, vai pra esquerda, tá mais rápido, tá mais rápido.” “Ah, moço, outro carro nos passou, assim não dá.”

E ela não parava de falar. Então tive que pedir a palavra, o que consegui com certa dificuldade e lhe disse que o meu papel seria trans portá-la com segurança e com respeito às regras do trânsito, as quais não me permitiam certas manobras ou peripécias.

“Eu entendo”, ela me disse, “porém tem uns carros que dá pra passar sim”. “Olha lá. Aquele dá pra passar porque está muito devagar, corre, moço, corre, moço, passa ele”.

Para deixá-la contente, eu ultrapassei esse veículo que estava bem devagar mesmo e ela expressou muita alegria, quase uma euforia e já ficou mirando o próximo. Estávamos na Avenida Salim  Farah Maluf (Zona Leste de São Paulo), cujo trânsito é pesado e intenso o dia inteiro, o que não permite muitas ousadias aos motoristas.

Perguntei-lhe se trabalhava com algum ramo voltado para o se tor automotivo, mas não, ela era do financeiro de uma rede de farmácias.

Ela apenas gostava da velocidade e tinha sérios problemas com pessoas lentas, diferentes dela, e que os momentos no trânsito ela utilizava para extravasar esses problemas com as diferenças, ou seja, como tinha que se controlar no trabalho, ali no particular soltava todos os seus demônios de uma vez, mas não passava disso. Ela apenas adorava vencer as disputas.

Disse-me que se considerava estressada mesmo e que isso lhe fazia bem, pois conseguia sempre o que queria e achava que algumas  pessoas até tinham medo dela e que achava isso bom.

Vivia em suas disputas, “delatando” as “lerdezas” dos colegas, aos chefes de cada setor. E achava que tinha esse direito. Era o “passa ele”, na prática da  vida e não só no trânsito.

Alertei-a sobre as consequências de se viver estressada, sem um momento de relaxamento e afirmou que aquela aparente adrenalina à flor da pele era o melhor remédio para ela.

Contei-lhe meu caso do hospital, do infarto simulado, e ela disse-me que sentia dores no peito  às vezes e que já tivera suores excessivos algumas vezes. Ao que eu argui que seria muito jovem para tais sintomas e que isso poderia vir da mesma fonte: o estresse.

E que a atitude a ser tomada dependia apenas dela e acrescentei que no seu caso, com tanta urgência em tudo, até coisas não muito boas poderiam acontecer sem demoras, e que era fundamental rever ter esse quadro o quanto antes, pois a expunha a ansiedades eternas e nada acrescentava à sua vida e à vida das pessoas que com ela conviviam.

Ela nem concordou, nem discordou e, me pagando em dinheiro, disse: “Me passe o troco logo, moço, passe o troco”!

Chegamos com oito minutos de antecedência. Quando desceu do carro, para manter-se coerente com seu poderoso estresse “amigo”, apressou o passo e ultrapassou feliz três pessoas que circulavam pela calçada.

Parecia que me enviava mensagens telepáticas dizendo: “Passei  eles, moço”!

Para adquirir o livro “Arquiteto & UBERnista”

Fazer contato pelo WhatsApp – (11) 93715 5328

Valor do livro R$ 40,00

Valor do envio R$ 10,00 (para todo o território nacional)

Valor total R$ 50,00

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