O baile de Ângelo

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Por Jorge Antonio Barros – no Quarentena News, compartilhado de Construir Resistêmcia

Apesar de agredido, ofendido, discriminado, abusado, o entregador de delivery Max Ângelo, preto e morador da Favela da Rocinha, deu um baile na mulher branca e opressora Sandra Mathias Corrêa de Sá, a valentona de São Conrado, que usou a guia do cachorro para atacar o homem. Sandra deu pelo menos quatro chibatadas em Ângelo, mas só uma o atingiu. A chibata era a mais clássica forma de punição no mundo colonial. No caso do Império, essa forma de agressão era monopólio do estado — era praticada de maneira ilícita e corriqueira nos engenhos, sem qualquer fiscalização.




Mas Max Ângelo venceu o tronco. Ele não deu apenas um baile de civilidade, ao resistir à tentação de responder à injusta agressão. Ângelo deu um baile de agilidade, ao se desviar com destreza das agressões de Sandra. A mulher estava indignada porque Ângelo havia tirado um fino dela, com a bicicleta. Mas nada pode ser justificativa para uma agressão por mais que a pessoa tenha razão. Sandra perdeu a razão, perdeu a compostura, perdeu o equilíbrio e foi de cara no chão. Perdeu, playgirl, perdeu.

Eu vejo e revejo o vídeo do ataque de Sandra para ver se aprendo com Ângelo esses truques de defesa pessoal que ele tão bem nos ensina no episódio. Que desenvoltura! Quanto estilo. Suingue sangue bom. Me lembrou aqueles dançarinos de soul music que, de sapatos bicolor, arrasavam nos salões dos clubes da minha adolescência. Muita arte e elegância num corpo só.

Max Ângelo, pedaleiro urbano, atleta de rua, trabalhador sem carteira assinada, deveria ganhar a medalha de ouro num novo esporte: escapar de golpes quase certeiros dados por uma mulher em fúria. A atuação de Max Ângelo bem que pode ser exemplo para aqueles homens covardes que alegam apenas ter devolvido o tapa de mulheres à beira de um ataque de nervos. Max Ângelo ganharia dinheiro se abrisse um curso de defesa pessoal para escapar de potenciais agressoras.

Mesmo sem ter sido agredida por Ângelo, Sandra apresentou um atestado médico para fugir do depoimento na 15ª DP (Gávea). Só por aquela chibatada dada por Sandra em seu lombo, Ângelo, descendente de negros escravizados, deveria ganhar um mês de folga com tudo pago pelo Ifood.

FOTOS

Sandra usa a guia do cachorro para dar chibatadas no entregador (Reprodução/internet)

A cena remete ao Brasil colônia, em que pretos eram amarrados em troncos e açoitados publicamente.

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