Por Aderbal Freire-Filho, em Brasil 247 –
Era uma rádio no nordeste, fim dos anos sessenta e, na onda dos festivais de música popular, decidimos fazer lá também nosso festival. Uns jovens desconhecidos, a maioria deles universitários, começaram a se inscrever: Rodger e Dedé (Física), Belchior (Medicina), Fausto Nilo (Arquitetura), Fagner, Jorge Melo, etc. Uma tarde, apareceu lá um cara com uma história no mínimo curiosa. Dizia que uma música de grande sucesso da época – não lembro se do Roberto Carlos, do Altemar Dutra – era composição sua e tinha sido plagiada, mais até, tinha sido roubada. Era difícil acreditar, mas ele garantiu, cantarolou a música, contou uma história e, para que não duvidássemos, mostrou outra música, também conhecida e que seria dele também. O festival era a oportunidade de mostrar outras músicas suas e desmascarar tudo.
E se fosse verdade? Ponto pro festival. Marcamos uma reunião na sala da direção para saber mais detalhes, provas, etc. Ele começou nos assustando com outras denuncias, que Caetano, que Chico, que Carlinhos Lyra… Enfim, em menos de 10 minutos já dava pra ver que o cara era maluco. Mas, só pra terminar, um dos radialistas que estava ali perguntou: você conhece All The Way, com o Frank Sinatra? É minha, ele respondeu. E completou: todas as músicas são minhas. Bom, deixamos o cara em paz, ele inscreveu lá duas ou três músicas fuleiras dele mesmo (aliás, nada prova que essas eram dele mesmo) e ficou por isso. Depois, ele passou a aparecer vez por outra na rádio, onde ficou conhecido como O Compositor. E a gente gostava de dizer sou amigo d’O Compositor, O Compositor te mandou um abraço…
Lembro dele agora a propósito do Lula, O Bandido. A diferença é que todos estão levando a coisa a sério. Então, se é assim, porque não prendem logo esse homem?
Lula, como se sabe, recebeu um terço da propina de Furnas. Depois, mandou sua amante com o filho (dele, DNA à parte) para fora do país e acertou com ela uma mesada, a ser paga pela empresa Brasif, que no seu governo obteve todas as concessões de free-shops em aeroportos, como nunca antes na história desse país. Free-shops nos aeroportos, Lula reservou o avião do governo do Estado de São Paulo para que sua mulher fizesse as viagens que quisesse, quando quisesse. Mas isso era pouco: Lula mandou sua mulher aprender tênis numa academia na Flórida e contratou um professor a quem pagou 59 mil dólares pelas aulas. Como não dava para mandar esse dinheiro daqui, foi preciso abrir contas na Suíça. Bom, Lula é um homem honrado (ele diz), não tem contas na Suíça, é apenas “usufrutuário em vida de ativos geridos por um truste”, qualquer coisa assim. Em São Paulo, Lula fez a farra. Sua última façanha foi mais uma prova de que comunistas matam criancinhas. Os tempos são outros, o estilo é outro: roubar merenda escolar. Armou com o presidente da Assembleia Legislativa, também conhecido por Lula, e com Lula, chefe de Gabinete do governador Geraldo Lula da Silva, para superfaturar as compras de frutas e legumes e cobrar propinas da Cooperativa dos Produtores. Antes, numa jogada altamente internacional, envolvendo a Alemanha (Siemens), Canadá (Bombardier), França (Alstom) e Espanha (CAF), superfaturou os preços dos trens do metrô. É preciso dizer que Lula fez tudo isso em São Paulo, apesar da alternância de poder que acontece lá, como querem todos os partidos da oposição e toda a imprensa. No governo desse Estado, eleito em 1995, Luis Inácio Covas foi sucedido por Mário Lula Covas, depois por Lula Alckmin, depois por Geraldo Lula da Silva, em seguida por José Serra Lula da Silva e novamente por Geraldo Lula, mais de 20 anos de alternância, isto é, Lulas para todos os gostos.
Apesar das evidências, Lula nega absolutamente tudo e, com mais veemência, seu envolvimento em uma operação de tráfico de cocaína, documentada, filmada e pesada (450 quilos de pasta base). A cocaína era transportada por um helicóptero de um deputado amigo de Lula, do partido do Paulinho Lula, e descarregou a droga em uma de suas fazendas mineiras. Ele tem outras fazendas em Minas, assim como sua família, sendo a mais conhecida a de um tio, onde construiu um aeroporto com dinheiro público, para uso privado desse tio e seu.
E isso é uma lista pequena. O que dizer dos famosos filhos de Lula beneficiados nas privatizações (genros inclusive), feiras internacionais, empregos onde nunca aparecem, etc. A meritocracia de Lula é clara. Por exemplo, a irmã da sua ex-amante fez por merecer um emprego no gabinete de um senador aliado, com salário integral e ausência integral (possivelmente lanche a domicilio com pão integral, ainda sem provas, mas com indícios, evidências, um vizinho viu…).
Enfim, porque não prendem esse homem, com tantos delitos?
Perdem tempo com bobagens, como se nós, da velha rádio nordestina, tivéssemos perdido tempo querendo investigar se as três músicas fuleiras d’O Compositor seriam ou não dele. Ficam querendo saber se uma empreiteira pagou a reforma de um sítio que ele frequenta (e que pode ser dele!!!) e se outra pagou a reforma de um apartamento que ele diz que não é dele (mas pode ser!!!) e gastam munição bombardeando o bote de dona Marisa Letícia. Perda de tempo: d. Marisa está estudando tênis na Flórida e o bote afundou em Parati (ou vice-versa).
O Merval Pereira, em quem todos acreditamos, garante: O Bandido é ele. Textualmente: “enfim foi descoberto o chefe da organização criminosa que assaltou o Brasil”. Meu amigo Merval atesta o que não podíamos atestar, nós, pobres radialistas provincianos, a respeito d’O Compositor: é verdade, tudo foi ele quem fez, O Bandido. E não essas três musiquinhas de merda, esses pedalinhos, essas caixas de cerveja, essa churrasqueira. Será que cometemos uma tremenda injustiça com O Compositor, não vendo que pelas três composições tidas como dele, dava pra atestar que ele era o autor de All The Way e de todas, absolutamente todas as músicas?