De volta  com a ótima  escritora e jornalista Sonia Nabarrete.  Desta vez com um miniconto sobre uma pessoa repleta de cuidados em sua vida profissional para destinar seu carinho abertamente.

Beijos, por Sonia Nabarrete

Com a flexibilização da quarentena, a prostituta retomou as atividades, mas reduziu o número de clientes pela metade.  Adotou o uso de máscaras — para ela e o cliente—, retiradas apenas para a prática de sexo oral, feito com camisinha. Aboliu ménage a tròis e surubas.

Todos os móveis e utensílios são devidamente desinfetados, antes e após cada atendimento. Cliente agora é recebido com borrifadas de álcool em gel por todo o corpo e tem a temperatura medida.

Alguns fazem propostas indecorosas: pagam o dobro e até o triplo por um beijo na boca. Mas ela se mantém irredutível.

Ao voltar para casa, usa a entrada de serviço, deixa os sapatos na porta, toma um banho demorado, escova os dentes, e só então vai ao quarto, onde o filho está com a avó.

E se sente à vontade para fazer o que lhe dá mais prazer: beijar a criança, que dorme em paz.

Gostou? Pois é, este mais um belo miniconto de Sonia Nabarrete do livro “O mundo parou, mas a gente não desceu”.

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