O boicote da Europa aos Estados Unidos é real e já está sendo sentido em um de seus setores mais lucrativos: o turismo

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A afluência de europeus aos Estados Unidos caiu 17% em março em relação ao mesmo mês de 2024.

Por Sofia Bedeschi, compartilhado de Xataka Brasil




A gigante hoteleira francesa Accor já alerta que as reservas para o verão tiveram uma queda de 25%.

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

David Pereira tem 53 anos e mora na França. Como muitos europeus, cresceu imerso na cultura dos Estados Unidos. As músicas que ouvia, os filmes do cinema da cidade, os carros dos sonhos — tudo vinha de lá. Quando conseguiu juntar dinheiro, decidiu viajar e conhecer o país de perto. E não foi só uma vez. Ele já esteve nos EUA quase uma dúzia de vezes e, há dois anos, percorreu os parques nacionais da Costa Oeste.

A ideia era voltar neste verão, agora com a família, para visitar Yellowstone. Mas depois de dois meses de governo Trump, Pereira mudou de planos. Em entrevista à CNN, contou que decidiu cancelar a viagem. E ele não é o único.

O setor de turismo dos EUA já começou a sentir os efeitos dessa mudança de clima entre os dois lados do Atlântico. Agências de viagem na Europa relatam uma queda no interesse, e autoridades americanas falam em diminuição da demanda.

O dado mais claro veio em uma reportagem do Financial Times, com um título direto: “Turistas europeus cancelam viagens aos EUA por causa das políticas de Trump”. Segundo números da Administração de Comércio Internacional, a quantidade de visitantes da Europa Ocidental que passaram ao menos uma noite nos EUA caiu 17% em março, em comparação com o mesmo mês de 2024.

Uma queda importante para uma indústria que representa cerca de 2,5% do PIB americano. E tem mais: a rede hoteleira francesa Accor informou que as reservas para o verão caíram 25%.

E não é só impressão

Apesar de Trump estar na presidência há menos de três meses, começam a surgir números e relatos que apontam para uma mudança concreta — e negativa — no turismo dos EUA.

Financial Times compilou dados que mostram queda no número de turistas vindos de países como Áustria, Reino Unido, Suíça, Alemanha, Noruega e Espanha. Em alguns casos, as perdas ultrapassam 20%. Além disso, também foi detectada uma redução nos voos de diferentes regiões com destino aos EUA.

A frase tem se repetido no setor: “algo está acontecendo”

Segundo a Administração de Comércio Internacional (ITA), o total de visitantes estrangeiros que viajaram aos EUA em março foi 12% menor do que no mesmo mês de 2024 — e esse número nem inclui turistas do Canadá e do México, que também mostram desinteresse pelos destinos americanos.

É verdade que em 2024 a Semana Santa caiu em março e em 2025 será em abril, o que pode influenciar um pouco a comparação. Mas para o setor, a tendência é mais profunda. A consultoria Tourism Economics foi clara: “Está acontecendo algo… e é uma reação a Trump”.

No começo de abril, a rede hoteleira francesa Accor confirmou à Bloomberg TV que as reservas feitas por europeus para visitar os EUA neste verão despencaram 25%. Os turistas estão preferindo destinos como Canadá, América do Sul e Egito.

Na Espanha, a Confederação de Agências de Viagem (CEAV) também afirmou que nota uma perda de interesse dos viajantes pelo país norte-americano.

Diante desse cenário, a Tourism Economics atualizou suas previsões: em fevereiro, esperavam uma queda de 5% no turismo dos EUA em 2025. Agora, a expectativa já é de um recuo de 9,4%. A operadora francesa Voyageurs du Monde também relatou à CNN uma queda de 20% nas reservas desde a posse de Trump.

Mas afinal… por quê?

Para o CEO do grupo Accor, talvez a resposta esteja ligada a um sentimento mais subjetivo: “Provavelmente é a ansiedade de entrar em um território desconhecido”, disse ele em entrevista à Bloomberg.

O fato é que essa mudança de comportamento dos turistas acontece num contexto geopolítico tenso. O retorno de Trump à Casa Branca provocou um distanciamento entre Washington e Bruxelas, reacendeu conflitos na guerra comercial, levantou discussões sobre recessão, defesa europeia e, segundo Paul English — cofundador do Kayak —, também mexeu com a reputação internacional dos Estados Unidos.

Além disso, vários países europeus revisaram suas recomendações para viagens aos EUA. Algumas atualizações incluem alertas sobre políticas migratórias e de fronteira mais rígidas, além de mudanças que afetam diretamente pessoas trans.

A Dinamarca chegou a emitir um aviso oficial, e o Ministério das Relações Exteriores da Espanha também atualizou suas diretrizes de segurança para quem pretende viajar ao país.

Somam-se a isso as frequentes notícias sobre detenções nas fronteiras — tudo isso acaba impactando a imagem e o apelo dos EUA como destino turístico.

E não é só a Europa que está mudando de postura

Na China, o governo já emitiu alertas sobre o “deterioramento das relações econômicas e comerciais” com os Estados Unidos. A orientação aos cidadãos é clara: “Avaliem cuidadosamente os riscos de viajar aos EUA e viajem com precaução”.

No Canadá, os números também chamam atenção. Segundo o órgão oficial de estatísticas, os deslocamentos de carro com destino aos EUA caíram 23% em fevereiro. O tráfego aéreo teve um recuo menor, mas ainda significativo: 13%.

Esses dados, somados aos da ITA, apontam para um movimento maior — que vai além do turismo. Há meses, especialmente na Europa e no Canadá, cresce um boicote silencioso a produtos dos Estados Unidos.

O consumo tem se voltado para mercadorias locais ou de outros países. Algumas plataformas e perfis nas redes sociais passaram a divulgar listas de produtos americanos com sugestões de substitutos. Entre eles estão páginas como Made in CA, Boykot varor fra USA e Choose.Europe.

Na Dinamarca, algumas lojas decidiram ir além e passaram a identificar com estrelas os produtos fabricados dentro da Europa.

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