Se vivêssemos num país sério o Sr. Milton Ribeiro, dublê de pastor e ministro da educação, já teria sido demitido, assim como o seu chefe já deveria ter sido afastado após sofrer um processo de impeachment. Mas os tempos são outros e a elite responsável pelo golpe de 2016 se beneficia (e muito!) com os desmandos do atual governo; caso contrário já teria dado uma solução para os escândalos que se avolumam em todos os setores. O escândalo da vez é o Bolsolão do MEC.
Por Sonia Castro Lopes, compartilhado de Construir Resistência
No orçamento deste ano a pasta da educação perdeu R$740 milhões que deveriam ser aplicados em programas de apoio à infraestrutura da educação básica tão prejudicada pelos efeitos da pandemia, em hospitais universitários e em agências de estímulo à pesquisa e produção do conhecimento, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Bolsonaro e seu ministro não estão nem aí para a educação popular. Também as universidades estão muitíssimo prejudicadas vendo seus recursos minguarem, o que atinge diretamente os alunos mais pobres e pesquisadores que deixaram de receber suas bolsas de auxílio e assistência estudantil.
Poderíamos citar aqui os inúmeros desastres que vêm acometendo a educação brasileira sob os auspícios desse governo imoral e deste ministro incompetente, mas no momento nos interessa focalizar o escândalo que já se tornou conhecido como o Bolsolão do MEC.
Com a cumplicidade do ministro-pastor e anuência do presidente da República estabeleceu-se no MEC um gabinete paralelo cuja liderança é exercida por pastores que negociam verbas do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE) para municípios em troca da construção de igrejas e propinas milionárias pagas até em barras de ouro. A divulgação do áudio gravado pelo próprio ministro vazou no início desta semana e ele foi intimado a justificar o injustificável tentando, como sempre, blindar o chefe da quadrilha. Disse ele: “O presidente da República não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou apenas que eu pudesse receber todos que nos procurassem, inclusive as pessoas citadas na reportagem.”
Sob o pretexto de ajudar a reformar escolas e creches, esses recursos também impulsionam a construção das escolas cívico-militares que atendem a uma fração exígua da população escolar, mas rendem adesões e votos com vistas à reeleição do presidente. Além de fazer parte de um projeto fundamentalista para amordaçar a capacidade crítica dos estudantes, o que já seria inaceitável num país laico, essa troca de favores constitui crime de tráfico de influência, improbidade administrativa, prevaricação e corrupção. Em meio a toda essa crise, o cinismo de Bolsonaro é revoltante. Num discurso em Tocantins na última terça feira (22) teve coragem de afirmar que exerce uma missão dada por Deus e zela pelo dinheiro público governando um país que desde o início de seu mandato não sabe o que significa corrupção.
Parlamentares da oposição tentam aprovar a convocação do ministro para que seja explicado ao Congresso a atuação dos pastores que, sem vínculo algum com a administração pública, negociam as verbas da Pasta com os prefeitos sob o olhar cúmplice do dirigente da pasta e do presidente do país. Os políticos do Centrão a quem Bolsonaro se aliou desde que se viu ameaçado por uma série de pedidos de impeachment controlam os recursos do FNDE e diante do escândalo já se manifestam pela demissão do ministro antes que toda essa sujeira respingue neles. Da mesma forma, a bancada da Bíblia expressa o desejo de que se investigue o caso, seja por que não conseguiu participar do butim, seja por que deseja se salvaguardar dos prejuízos eleitorais. Eu marcaria as duas alternativas.
Mas não é só o ministro que precisa ser ouvido. Os pastores vigaristas, os prefeitos que se beneficiaram das verbas, os políticos do centrão que fecham os olhos para essa canalhice e, principalmente, o presidente da República, chefe da quadrilha e responsável maior por toda essa desgraça que vem acontecendo não só na educação, mas em todos os setores da vida nacional.