A personagem empenhada na pensão alimentícia para o filho e o fenômeno das redes sociais contratada por sites de apostas: o poder de quem influencia e a responsabilidade que isso acarreta
Por Edu Carvalho, compartilhado de Projeto Colabora
na foto: A atriz Ingrid Gaigher, como a Lucimar da novela Vale Tudo: personagem lutando por pensão alimentícia para o filho fez busca de mulheres por este direito disparar (Foto: TV Globo / Divulgação)
Em um país onde o acesso à informação e aos direitos básicos ainda é um desafio para milhões, a forma como nos relacionamos com quem tem o poder de falar para multidões ganha contornos dramáticos e urgentes.
De um lado, a força atemporal da teledramaturgia brasileira e da TV aberta. A nova versão da novela ‘’Vale Tudo’’ mostrou o impacto real que uma história bem contada pode ter, onde num capítulo exibido recentemente, a personagem Lucimar, uma faxineira, busca pensão alimentícia para seu filho. O que poderia parecer apenas ficção na tela gerou um movimento impressionante na vida real: 270 mil mulheres buscaram informações sobre o direito à pensão, inspiradas pela situação de Lucimar, interpretada na novela da Globo, pela atriz Ingrid Gaigher.
Convém dizer: isso não é só arte; é um gatilho real para que pessoas busquem seus direitos. As novelas, muitas vezes, funcionam como um veículo poderoso de discussão, reflexão e transformação de comportamentos, ainda que o streaming siga avançando. É batata: a TV aberta tradicional, ainda em 2025, mantém sua conexão uma parcela significativa da população brasileira, justamente por pautar tramas ressoando a vida que corre na lida brasileira.
Do outro lado do jogo, um fenômeno das redes sociais. Recentemente, a influenciadora Virgínia Fonseca participou da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Bets no Senado Federal, que investiga a divulgação de sites de apostas por influenciadores. Sua presença gerou grande repercussão – sendo negativas a maioria das reações .
Segundo dados das plataformas de monitoramento Not Just Analytics e Blastup, Virgínia viu sua popularidade cair nas redes sociais após a participação na CPI. Em números, perdeu cerca de 600 mil seguidores no Instagram, com sua base caindo de 53,4 milhões para 52,8 milhões de fãs. Os dados apontam que em média, 15 pessoas deixaram de segui-la a cada 10 segundos após a plenária.
A presença de Virgínia na CPI também chamou atenção pela forma como se portou: vestida de moletom com o rosto da filha, frases repletas de bordões, desqualificando a seriedade do assunto tratado: a relação entre influenciadores e casas de apostas. Quando questionada sobre quanto já ganhou divulgando sites de apostas, especialmente jogos estilo “caça-níquel”, Virginia preferiu o silêncio.

Na mesa, um contraste entre Lucimar e Virgínia nos faz parar para pensar. De um lado, uma personagem fictícia que, ao buscar um direito legítimo, catalisa a busca por esse mesmo direito por milhares de mulheres na vida real. Do outro, alguém de imenso alcance nas redes sociais que, ao se envolver com a promoção de jogos de azar sob investigação séria, ajuda a ampliar um problema que agora toma o país.
Não se trata de endeusar a ficção ou demonizar o digital, mas de entender o verdadeiro poder de quem influencia e a responsabilidade que isso acarreta. O Brasil tem a capacidade de gerar e consumir conteúdos e figuras que tanto educam, sensibilizam e impulsionam a busca por direitos essenciais, quanto aqueles que, ligados a temas controversos e sérios, podem gerar danos e repulsa.
Que aquilo que é visto na tela ou no feed possa, cada vez mais, ser um motor pasenra as transformações reais e positivas que o nosso país tanto precisa. Que busquemos e valorizemos os bons exemplos, aqueles que usam seu alcance para o bem coletivo, impulsionando um Brasil mais consciente e justo.
Pra isso, vale tudo.