Por Marcio Pochmann do Brasil 247
Desde a irrupção da crise de dimensão global em 2008, acreditou-se que a hegemonia do pensamento único imposto pelo neoliberalismo estaria com os seus dias contatos. Ledo engano. Seis anos depois, constata-se que somente duas regiões (Ásia e América Latina) e alguns países não se encontram alinhados com o receituário econômico e social neoliberal anglo-saxônico.
Em certa medida, as experiências atuais dos governos pós-neoliberais possibilitam ensaiar a construção das bases do desenvolvimento num novo mundo multipolar, ao contrário da perspectiva unipolar reinante nos Estados Unidos, após o desaparecimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) no final da década de 1980. Nesse sentido, a evolução dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tem apontado para a formação de um sistema monetário e financeiro favorável ao desenvolvimento, alternativo ao quadro internacional desolador da desregulação competitiva.
Isso, contudo, exerce enorme tensão e pressão sobre os governos dos países que soberanamente buscam construir caminhos próprios para o enfrentamento simultâneo dos problemas de seus povos e do mundo, com maior justiça social. Exemplos disso não faltam hoje em dia no Brasil, que tem registrado resultados muito satisfatórios, sobretudo se comparado às nações assentadas nas políticas neoliberais.
Entre 2008 e 2013, o Brasil obteve a criação de 11 milhões de empregos formais. Para o mesmo período de tempo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o mundo registrou a destruição de 62 milhões de postos de trabalho. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil vai conseguindo – como poucos países no mundo – reduzir a pobreza e a bárbara desigualdade de renda. Nas economias submetidas às orientações do receituário neoliberal, o quadro tem sido desolador, com rebaixamento dos direitos sociais e do trabalho, em meio ao maior desemprego, pobreza e concentração de renda.
Continuar nessa perspectiva não será simples, como permite observar a complexidade atual da condução da economia brasileira. O gradualismo adotado no conjunto das medidas de transição econômica para um novo modelo produtivo com justiça social exige apoio popular e uma maioria política engajada no desbravamento do caminho próprio do país.
As críticas ao projeto em curso buscam oferecer o paraíso, sem apresentar o caminho a ser seguido. Implicitamente, defendem que o combate à inflação deveria se dar com a elevação drástica na taxa de juros e a valorização cambial, permitindo que o tarifaço a ser cedido pela elevação do preço do petróleo, da energia elétrica e outros preços básicos da economia se completasse como uma terapia do choque. Ao mesmo tempo, o corte nos gastos públicos, com a suspensão dos concursos, a promoção do arrocho salarial no funcionalismo e o menor recurso para as áreas sociais e de investimento completassem o ajuste fiscal aprofundado.
Em síntese, a recessão como meio de contenção do tamanho do mercado de trabalho, provocando aumento do desemprego e o rebaixamento do nível de remuneração. Esse filme – é verdade – já passou nos anos 1990 no Brasil, quando a base da pirâmide social foi a que pagou pelo custo do ajuste econômico, sem sucesso sustentável no tempo.
Na Grande Depressão de 1929, o Brasil foi um dos primeiros países que mais rápido recuperou a sua economia e perseguiu um novo modelo de desenvolvimento nacional. Mesmo assim, a década de 1930 foi repleta de críticas daqueles que não aceitavam o caminho próprio construído pelo país a partir de então. O país hoje, guardada a devida proporção, se reinventa, apostando em projeto de desenvolvimento melhor para o conjunto do seu povo, não obstante as contradições que apresenta. A compreensão deste momento constitui tarefa substancial de todos aqueles que acreditam que o Brasil pode e merece muito mais, não menos.