O Brasil não é o exemplo de Liberdade de Imprensa

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Passei mais de 40 dos meus 63 anos de vida exercendo a profissão de jornalista. Estou entrando neste assunto por que se estipulou que hoje é o Dia da Liberdade de Imprensa, um valor caríssimo aos profissionais de imprensa e a todas as democracias.

Compartilhado de Construir Resistência




Desde jovem, trabalhando nas redações, vi de tudo na profissão e a exerci de todas as formas que ela se apresentou para mim: 8 anos como pauteiro de TV, 7 anos como repórter e redator em jornais impressos, vários como assessor de imprensa de órgãos públicos e mandatos parlamentares, alguns deles produzindo campanhas eleitorais de TV e impressas e até uns chiquérrimos como secretário municipal de Comunicação e Coordenador de Comunicação de entidades sindicais ou públicas. Neste meio tempo teve muito free lancer, jobs, bicos etc.

Hoje mesmo me aventuro no site que criei juntamente com a professora doutora carioca, Sônia Castro Lopes, uma parceira que a vida das notícias me trouxe nos caminhos da escrita, apesar de morarmos a 400 quilômetros de distância e nunca termos nos visto pessoalmente. Talvez seja um dos segredos do sucesso do Construir Resistência, que em 1 ano e três meses de existência (nasceu em 8 de março de 2021, no Dia Internacional da Mulher), uma mística que de fato funcionou, atingiu a significativa marca de 690 mil visualizações, apenas com conteúdo jornalístico de qualidade, uma impressionante marca de 1,5 mil acessos diários nos mais variados assuntos, hoje reforçado pela presença entusiasmada do jornalista Walter Falceta, um corintiano inveterado.

É óbvio que se o Resistência se baseasse em nudes, dancinhas, “boquinha da garrafa” e outros recursos menos ortodoxos da comunicação moderna, do estilo Tic Toc ou engraçadinhos como o Porta dos Fundos ou o “Aristeu”, 690 mil acessos não seriam nada. Até um vídeo da Russinha que fala português tem muito mais que isso em uma única postagem. Mas, o nosso foco, como o nome diz, é ajudar a Construir a Resistência contra o autoritarismo e o fascismo, o que, convenhamos, dá bem menos Ibope.

Mas, desde que pisei em uma redação quando jovem, local onde as divergências políticas afloram com muita força, descobri que no Brasil existe a tal da Liberdade de Imprensa, tão apregoada aos quatro ventos, mas não existe a Liberdade de Empresa. Isso eu sempre ouvi falar. Os jornalistas, com raras exceções, escrevem o que seus patrões mandam, processo natural na relação capitalista de modo de produção. Quando não escrevem o que eles querem, é demissão quase certa. Portanto, há sempre uma autocensura dos profissionais, que não podem e não devem ultrapassar os limites definidos pela “casa”.

Os patrões da mídia privada nunca gostaram do PT e menos ainda do movimento sindical. Eles significam uma melhor divisão de renda, o que não é tão bem visto pelo atrasado empresariado nacional. Tiveram que engolir os quase 16 anos de governos petistas com os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, muito a contragosto, mas não lhes deram um minuto sequer de trégua neste período. Forçaram a mão em bombardeios diários com factóides como Mensalão, Cuecão, Petrolão, Lava Jato e outros tão conhecidos desequilíbrios jornalísticos, como se o Brasil fosse uma ilha de honestidade e todo o mal do país da corrupção e da roubalheira se desse sob as gestões da esquerda.

Esta “brincadeira”, que foi chamada pelo falecido jornalista Paulo Henrique Amorim como PIG (Partido da Imprensa Golpista) péssimo gosto, encabeçada pelos barões da mídia, custaram 580 dias de prisão ao ex-presidente Lula e desembocaram na eleição do bebê diabo que ocupa a presidência da República, que aparecia como um salvador da pátria, um antipetista que iria “fuzilar a petralhada”.

Justamente estes grandes conglomerados de Comunicação irão hoje encher a boca com a tão propalada Liberdade de Imprensa, mas que não deram nenhuma chance de defesa, de forma equânime, para que Lula, Dilma e o PT pudessem fazer o contraponto aos ataques diários que realizavam através de todos os veículos. A Rede Globo de TV, praticamente a serviço da chamada famigerada operação Lava Jato, cometeu um crime que não seria possível em nenhuma democracia, que foi levar ao ar sem autorização judicial, o diálogo da então presidenta com o ex e virtual novo presidente da República, que naquela oportunidade seria içado para a condição de ministro de Estado para evitar a prisão arbitrária praticada por Sérgio Moro. O mundo quase caiu.

O Brasil não é o exemplo de Liberdade de Imprensa, como irá apregoar hoje o baronato da mídia e seus servis profissionais de imprensa. Ainda há um longo caminho a percorrer para alcançá-la. Só em 2020 foram assassinados no Brasil 62 jornalistas no exercício da profissão. É um ofício quase sem nenhuma salvaguarda e que se tem que ter muito cuidado com o que se vai escrever, para não levar um processo judicial que derruba financeiramente quem escreveu a notícia e o veículo pelo qual foi veiculado, quando não se sofre tocaias ou ameaças de morte, como tem sido mais comum no governo do psicopata genocida. Hoje mesmo está desaparecido na Amazônia o jornalista inglês do The Guardian, Dom Phillips, que certamente iria denunciar entrada ilegal de garimpeiros em áreas indígenas. É desta Liberdade que se trata.

Infelizmente no Brasil o jornalismo tem se tornado cada vez mais uma profissão de risco.

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