Por Adriana do Amaral, jornalista
É impressionante como a sinergia se faz presente. Nos últimos meses tenho pensado e debatido com colegas e professores sobre a comunicação no Brasil. Também, fui convidada para dar uma aula para estudantes de jornalismo onde abordei o assunto e assinei à carta em defesa da comunicação democrática, destinada ao presidente Lula.
“Quem lê tanta notícia”, diz o verso da canção de Caetano Veloso, que também celebra o jornal alternativo Sol, combativo nos tempos onde vigorava a censura. Hoje, a desinformação impera.
O Brasil convive com os desertos de notícia, a hegemonia da imprensa dominada pelos patrões, mas nunca foi tão importante o trabalho, muitas vezes voluntário ou cooperativo de jornalistas para reverter o discurso de ódio disseminado nas plataformas digitais.
Desde o golpe de 2018, a imprensa foi tratada como algoz e salvadora da Pátria, e os jornalistas ora vilões, ora heróis.
Pouco se discute a urgente regulamentação da informação, erroneamente confundida com censura. Enquanto isso, os grandes empresários controlam o que podemos ou não publicar/ler nas redes sociais, dominada por cérebros eletrônicos.
Eu defenso a regulamentação e, principalmente a democratização do acesso e difusão da informação. Por mais jornais de bairro, sindicais, rádios comunitárias, TVs públicas. Inclusive para valorizar, proteger o direito autoral e garantir a acesso à informação de qualidade.
Trabalhando num projeto acadêmico chamado Revista Imprensa Jovem, convivo com estudantes do ensino fundamental com talento para a escrita, arte e senso crítico o bastante para informar seus pares com qualidade. Imaginem se cada escola tivesse uma o seu jornal mural, podcast, formando uma agência de notícias que disseminasse notícias dos bairros Brasil afora?
Já vemos indícios o bastante para constatar que a guerra de retórica vai se acirrar, e o namoro com a democracia dará lugar às críticas. A quem iremos delegar o controle da informação?
O acesso à informação tem de ser prioridade no terceiro governo Lula. Este sempre foi, acredito, um dos pontos nevrálgicos do Partido dos Trabalhadores quando no Executivo.
Fiquei muito satisfeita com a indicação da jornalista e ex-deputada federal e candidata à vice-presidenta, Manuela D’Ávila, no grupo de transição voltado aos trabalhos técnicos sobre Comunicação. Alguém que foi vítima e tomou para si a luta contra a desinformação e o discurso de ódio.
Sabemos que o bolsonarismo desvelou o pior caráter brasileiro, mas a difusão de notícias distorcidas e /ou intencionais, por valer-se de interesses diversos, corroborou para o caos vivido nos ultimos quatro anos. O que a minha mãe acredita reflete o que ela lê ou deixa de ler.
O momento pede informação. Pede conteúdo. Afinal, notícia nunca é falsa, se for é crime.