Por Rogério Marques, jornalista, no Facebook –
Uma das coisas que mais têm me impressionado ultimamente é ver o número de pessoas cozinhando com lenha, nas ruas do Rio. Gosto de caminhar pela cidade, e com frequência vou a pé de Laranjeiras ao Centro da cidade. Nesse trajeto tenho visto grupos de acampados nas ruas cozinhando, na hora do almoço. São muitos, por todo o caminho. Eles usam, como lenha, ripas de caixotes de frutas, que pegam em feiras-livres e supermercados. E se alimentam de restos.
A Glória, a Lapa e o próprio o Centro são pontos de grande concentração desses brasileiros que só possuem aquilo que conseguem carregar em sacolas de plástico ou, no máximo, em um carrinho de feira. Por toda a cidade, em todos os bairros isso é visto por todos nós.
Existe um desses grupos que cozinha com lenha na Avenida Rio Branco, junto à Praça Floriano, bem em frente ao Clube Militar. Quem passar lá por volta de meio-dia vai ver isso. A Avenida Rio Branco, historicamente a mais importante do Rio, que concentra a poderosa rede bancária.
Ali, na Praça Floriano, o número de sem-tetos é assustador. Mulheres, homens, adolescentes, muitas crianças. Outro dia vi uma cena chocante. Uma adolescente, quase criança, amamentando um bebê, sentada no chão, enquanto vendia paçocas em uma caixinha.
Curiosamente, tudo isso acontece em frente ao Clube Militar, palco de conspirações golpistas como em 1964 e provavelmente em 2016. E os militares que entram e saem daquele prédio, muitos deles reformados — como alguns que fazem parte do atual governo –, certamente nem relacionam toda aquela tragédia social com atitudes que um dia eles próprios tomaram e que levaram à concentração de renda absurda e à tragédia social que o Brasil vive hoje.
Que Forças Armadas são essas que nós temos! Eternamente aliadas e cúmplices dos poderosos, dos grandes empresários, da Fiesp, de uma classe média que quando ascende socialmente um pouquinho passa a acreditar que distribuição de renda é uma afronta ao que chamam de meritocracia.
Que retrocesso o Brasil está vivendo! Cozinhar com lenha nas ruas, dormir nas ruas, ter que usar como banheiro praças e chafarizes. Com as reformas neoliberais criminosas que o atual governo está fazendo isso vai explodir um dia, como o Chile atualmente. O mesmo Chile que até ontem era exaltado por tantos colunistas de economia como exemplo de modernidade para a América Latina.
É triste.