Lourenço Paulillo, cronista e poeta
Passa o trem
Passa o tempo
Passa a chuva
Passa o vento
Catavento
Num momento
Um lamento
Desalento
Contratempo
Passa o amor
Murcha a flor
Surge a dor
Desencanto
Vem o pranto
Passa a banda
Passa a onda
Passa a ronda
Passa a escola de samba
.
Passa o passarinho
O vento destrói seu ninho
Agora ele segue sozinho
Passa a estrada
Passa a encruzilhada
Passa a alvorada
O trem apita
Toda a gente se agita
A mãe fica aflita
É a hora da partida
É a despedida
É a hora dolorida
.
O último abraço
E parte o trem da estação
Com estardalhaço
Descompasso
E resta só o mormaço
Partem amigos queridos
Alguns por opção
Por não haver salvação
O trem ganha velocidade
Já vai longe a cidade
E mais perto a saudade
Apaga-se a memória
Termina a história
Sem alegria, sem glória
Mas não!
Não termina não
Outro trem vem apontando
Quem partiu está voltando
A vida em novo momento
A vida em movimento
Agora com mais condimento
Agora sem sofrimento
Novo encanto
Acalanto
Volta a chuva
Volta o vento
Nova flor, novo amor
Passa a dor
Novo ninho
Novos amigos
Novos caminhos
.