O Centenário de Alberto André: o ícone da imprensa gaúcha

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Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, pesquisador e coordenador do Setor de Imprensa do Musecom –

“Pelo jornalismo faria tudo de novo”. 




(Alberto André)                                                                                     

fonte     Há 100 anos, no dia 2 de dezembro, sob o signo de Sagitário, nascia um dos maiores expoentes do jornalismo gaúcho: Alberto André (1915 – 2001). Filho dos imigrantes libaneses, Miguel e Sada André, ele nasceu em Porto Alegre. Ao longo de sua existência, desenvolveu um importante trabalho no campo do jornalismo, da política e da cultura, destacando-se como um exemplo de cidadania, dedicação e amor por sua terra.

    Embora seu pai o incentivasse a formar-se em Medicina, Alberto André já sonhava, desde cedo, com o universo de uma sala de redação. Sua base educacional se deu na Escola Lassalista de São João, no Colégio das Dores e no Colégio Júlio de Castilhos.

    O profissional do jornalismo

  Em 1936, começou a trabalhar na Rádio Sociedade Gaúcha, como apoio do diretor da emissora, Nilo Ruschel, tendo apenas cinco minutos, duas vezes por semana, para falar acerca dos problemas de Porto Alegre, à qual devotou um amor incondicional. No ano seguinte, iniciaria sua vida acadêmica no Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas sem abandonar sua paixão pelo jornalismo.

   A sua primeira experiência na redação de um jornal se deu no Jornal da Noite. Tratava-se de um jornal vespertino e político, sob a orientação de Flores da Cunha e seu Partido Republicano Liberal. Com a criação do Estado Novo (1937-1945), o periódico encerrou a sua circulação. Nele, Alberto André redigia matérias muito ricas sobre a cidade de Porto Alegre.

   Ainda em 1937, começou a trabalhar no jornal A Nação que pertencia à Tipografia do Centro e à Cúria Metropolitana de Porto Alegre, ganhando experiência em assuntos internacionais. Nesse período, ele teve o primeiro contato com a violência de origem ideológica contra a imprensa. O jornal A Nação, de origem germânica, acabou, em 1942, sendo depredado durante a II Guerra Mundial. Este episódio ficou conhecido, em nosso jornalismo, como a “Noite do Quebra-Quebra”. Alberto André trabalhou também no Correio da Noite, na Agência Brasileira de Notícias e colaborou no jornal, ligado ao Partido Libertador, O Estado do Rio Grande, fundado, em 1929, pelo médico e jornalista Raul Pilla (1892-1973).

     O Estado Novo e o jornalismo

   Em 1940, Alberto André recebeu o convite de Manoelito de Ornellas (1903-1069) – figura de destaque em nossas letras – para trabalhar como censor de notícias sobre a II Guerra Mundial (1939-1945), do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda,  ligado ao DIP. A princípio isso parece ir de encontro a sua figura democrática, porém, como censor, poupou jornais de empastelamento e avisou colegas acerca do risco de uma prisão iminente. A liberdade de informação foi o foco e a razão principal de sua carreira, como jornalista, ao longo dos anos. Ele dizia que, durante o período, no qual atuou, jamais se utilizou do seu poder de censor, para vetar a publicação de qualquer matéria que considerasse séria e importante para o leitor.

..  Em 1941, Alberto André passou a lecionar Contabilidade no Colégio Nossa Senhora do Rosário.  Na condição de professor, Alberto André assumiu a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas, um dos núcleos da futura PUCRS, lecionando em várias matérias durante 45 anos.

     O jornalista do Correio do Povo

  No ano em que ocorreu a famosa “Enchente de 41”, inundando de forma trágica a cidade, Alberto André se casou com Lourdes Cafruni, cuja união permaneceu até a sua morte em 2001. O casal teve três filhos: Marlene (já falecida), Roberto e Fernando.  Em 1941, Alberto André ingressou na redação do importante e tradicional jornal da capital gaúcha, o Correio do Povo, onde trabalhou por 43 anos, atuando também como articulista na Folha da Tarde e na Folha da Tarde Esportiva que pertenciam à Empresa Jornalística Caldas Júnior. De 1942 a 1956 era Alberto André que dava a ordem para a rodagem do Correio do Povo.  No ano de 1941, publicou o seu primeiro livro: Aspectos da Vida Internacional, pela Editora A Nação.

   O presidente da ARI e sua visão democrática

   Em 1943, formou-se em Direito pela UFRGS, atuando, por 15 anos, nessa área.  Cinco anos depois, ele se filiou à Associação Riograndense de Imprensa (ARI), ocupando alguns cargos administrativos. Devido à insistência dos amigos da redação do Correio do Povo, Alberto André se candidatou à presidência da ARI, em 1956, e ganhou de forma excepcional o pleito por um voto de diferença. Dirigiu a entidade por 34 anos, posto no qual enfrentou o período do regime militar (1964-1985), auxiliando, principalmente, durante “os anos de chumbo” vários jornalistas e intelectuais, a exemplo de Flávio Tavares e Reinaldo Moura (1900-1965), então, diretor da Biblioteca pública do Estado, a escapar dos tentáculos do regime de força e repressão que havia se estabelecido no Brasil em 1964.  Neste ano de 2015, no dia 19 de dezembro, a ARI comemora 80 anos de existência.

      O homem político

     Eleito, em 1951, para a Câmara Municipal de Porto Alegre, foi reeleito três vezes seguidas até 1963. Na condição de vereador, dedicou-se a buscar soluções para os problemas urbanos e sociais da nossa cidade, considerando isso um dever ético. Ainda em 1956, consegue seu registro, como professor, na Secretaria de Educação. Elege-se também para deputado estadual, no período de 56/60, exercendo o cargo por apenas dois meses. No ano seguinte, assumiu o cargo de Delegado Conselheiro da Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ), permanecendo por dois anos. Nesse ano, publicou o livro Coletânea de Legislação Tributária Municipal pela Editora Sulina.

    O professor universitário

  No ano de 1962, Alberto André começou a lecionar na cadeira de Direito Aplicado à Economia na Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, aposentando-se ao completar 70 anos, após 31 anos de trabalho como professor adjunto e chefe de departamento dessa universidade Ainda, em 1962, ele assumiu a presidência da Câmara Municipal de Porto Alegre, exercendo, com dignidade e altruísmo, essa importante função.

    Em 1966, Alberto André é homenageado com a Medalha do Porto de Bremen na Alemanha Ocidental, que havia visitado em 1956. Um ano depois, publica, pela Editora Sulina, o livro Alemanha Hoje, no qual narra as duas viagens que fez a esse país.

   No ano em que o Brasil ganhou a Copa Jules Rimet, em 1970, ele é escolhido, para assumir a direção da Faculdade dos Meios de Comunicação Social da PUCRS  (Famecos). Ele permaneceu no cargo função até o ano de 1975. Ainda nesse ano, publica Ética e Códigos da Comunicação nos Cadernos de Comunicação da PUCRS. Em 1972, recebe o prêmio Destaques do Diário de Notícias e Medalha da Assembleia Legislativa. Passados dois anos, recebe o título de Comendador da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) / Secção Rio grande do Sul.

  O apoiador cultural 

  Durante o período nevrálgico da nossa política, que sucedeu ao golpe militar de 64, ele se envolveu em campanhas de interesse público, a exemplo da criação do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa (Musecom), em 10 de setembro de 1974, em plena ditadura militar. O jornalista Sérgio Dillenburg – fundador e idealizador dessa instituição – teve o apoio incondicional da ARI e de seu presidente, em exercício, o jornalista e escritor Alberto André. Essa instituição prestou a sua homenagem, criando, no espaço do Musecom, a Sala Alberto André, na qual ocorrem diversos eventos culturais ligados à comunicação. A campanha, para que fosse criada também a Casa de Cultura Mário Quintana, no espaço onde funcionou o famoso Hotel Majestic e morou o nosso poeta, teve a fundamental participação de Alberto André, então, representante da ARI no Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre,

  Porto Alegre reconhece Alberto André

  No ano de 1977, Alberto André recebe o título de professor Emérito da PUC, Ao iniciar a década de 80, Alberto André é agraciado com o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre – fato que se repetiu em 1982.

    Em 1980, é também escolhido Membro do Conselho Municipal do Plano Diretor de Porto Alegre, além de ser eleito chefe de Departamento de Direito Econômico e do Trabalho da UFRGS, aposentando-se em 1985. Em 1988, ele é homenageado como Patrono da 34ª Feira do Livro de Porto Alegre, em reconhecimento pelo seu trabalho, em prol da cultura gaúcha, e também por ter oficializado, por meio da criação de uma lei, esse tradicional evento cultural, criado, em 1955, pelo jornalista Say Marques do Diário de Notícias, que ocorre, anualmente, na Praça da Alfândega no centro da capital gaúcha.

     Em 1992, Alberto André publica 50 anos de imprensa, pela Editora FEPLAM.  Um ano depois, ele recebe o título de Patrono das Agências de Propaganda do Rio Grande do Sul.  Em 1995, o Jockey Club institui o Páreo Alberto André, sendo sua figura  escolhida Decano dos Jornalistas do RS. O jornalista é homenageado pela Biblioteca da Câmara Municipal, cujo nome é Alberto André, localizando-se no terceiro andar do Legislativo.

    Alberto André teve uma trajetória profissional notável, cuja palavra escrita foi utilizada, como instrumento, para o bem social e engrandecimento da cidade de Porto Alegre e do nosso estado.  Esse exemplar profissional desenvolveu tantas atividades, no decorrer de sua existência, que é impossível enumerá-las nesse breve texto. A intenção, que me moveu a escrever, acerca da vida desse importante jornalista, foi a de prestar uma homenagem em seu centenário de nascimento. Alberto André fez escola, em nosso jornalismo, pela sua postura ética e tão cosmopolita em sua forma de pensar, ver e atuar como cidadão.

    A presença do presidente Alberto André, na Associação Riograndense de Imprensa, foi tão marcante e significativa que recebeu o apelido de “Seu ARI”. Embora tenha se aposentado, ele jamais deixou de colaborar com artigos para jornais de todo o Rio Grande do Sul, escrevendo em sua velha e companheira máquina de escrever Remington.

    A morte do ícone

   O presidente de Honra e do Conselho Deliberativo da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), faleceu, em 06 de setembro de 2001, em sua residência, devido a uma insuficiência hepática, após anos de dedicação ao jornalismo, ao magistério, à advocacia e à política. Seu velório ocorreu na Assembleia Legislativa do Estado. O prefeito de Porto Alegre, na época, Tarso Genro assinou o decreto N° 13.379, determinando luto oficial, por três dias, na capital gaúcha.

  Em abril de 2010, A Associação Riograndense de Imprensa (ARI), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), inaugurou o Laboratório de Recuperação do Acervo que contempla a vida e o legado cultural do Jornalista Alberto André.

   O amor pelo jornalismo, que está presente em sua alma, só morreria com o próprio Alberto André, quando partiu para a pátria espiritual, aos 85 anos, pois, com certeza, transcende, noutra dimensão, o seu legado cultural e a intensa influência de seu trabalho na área da Comunicação Social, eternizado em sua amada Capital Porto Alegre.

Bibliografia
 GOULART, Antõnio , TORMA, Ercy. Grandes nomes da Comunicação. Porto Alegre: Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, IEL, CORAG, 1997.
 ANDRÉ Alberto. 50 anos de imprensa.  Porto Alegre: FEPLAM, 1992.
Alemanha Hoje. Porto Alegre: Ed. Sulina,1967.
Aspectos da vida internacional. Porto Alegre: Ed A Nação 1941.
Site:  http://portalimprensa.com.br/noticias/ultimas_noticias/32712/entidade+e+ufrgs+iniciam+recuperacao+do+acervo+do+jornalista+alberto+andre Acessado em 06 /12/2015.

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