Nesta semana, de 9 a 13 de setembro de 2024, a cidade de São Paulo transformou-se na cidade mais poluída do planeta! Infelizmente, já há muito tempo a capital paulista convive passivamente com a poluição. Mas nunca havia conquistado este título.
Por: Francisco José Nunes, compartilhado de Estética em Movimento
(Mestre em Ciências Sociais – PUC/SP; graduado em Filosofia; ativista em diversos movimentos populares)
Em 2007 o filósofo, teólogo e ecologista Leonardo Boff publicou um artigo intitulado “O palhaço de Kierkegaard”. O escritor brasileiro cita um aforismo do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1955), sobre um incêndio que inicialmente atingiu as cortinas dos fundos do circo.
Preocupados, os artistas decidiram avisar imediatamente o público para que se retirassem do circo, mas o único artista que estava pronto para entrar em cena era o palhaço. Então ele foi até o palco, comunicou o ocorrido e pediu para que todos saíssem do local. Mas o público começou a rir. Desesperado, o palhaço começou a fazer apelos insistentes, então o público começou a rir mais ainda. O fogo atingiu todo o circo com todas as pessoas dentro.
O escritor Leonardo Boff diz que, nas últimas décadas , os ecologistas foram tratados como palhaços.
Por enquanto, o fogo ainda está atingindo “as cortinas do circo” planetário. O que fazer?
O diagnóstico já temos. Os principais responsáveis já conhecemos. A luta entre os ecologistas e os ecocidas é muito desproporcional. Aqui reside o desafio para todos e todas. Especialmente para os filósofos e filósofas. A vitória temporária dos ecocidas está fundamentada na máquina de convencimentos da maioria das pessoas. Isto é, na imposição das ideias neoliberais, no estímulo ao individualismo e à prosperidade a qualquer custo e no estímulo ao consumismo.
Está muito difícil enfrentar este conjunto de ideias! Além do mais, estas ideias estão gerando um clima de niilismo negativo. Isto é, “vontade de nada”. Estão convencendo as pessoas de que não há solução para o problema e que a única alternativa é “aproveitar cada dia da sua vida”. Já dizia o filósofo Karl Marx: “As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual dominante” (“A Ideologia Alemã”, de Marx e Engels – 1845). As ideias ecocidas são as ideias da elite econômica e que são impostas para as massas.
O que é preciso fazer para mudar este clima? Fazer a “batalha das ideias” e fazer a luta política! Segundo Paulo Freire: “A teoria sem prática é estéril e a prática sem teoria é ingênua”! Precisamos somar forças com os movimentos ecológicos. Temos vários movimentos na vanguarda teórica e prática da luta ecológica: o Movimento Ecossocialista, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) entre vários outros. Mas precisamos tomar cuidado com o movimento “ecocapitalista”!
Em tempos de eleições municipais precisamos identificar quais são os candidatos a prefeito e a prefeita, a vereador e vereadora, que em sua trajetória de vida tem uma atuação em defesa do meio ambiente!
Sugestões de leitura:
1 – “O que é Ecossocialismo?”, de Michael Löwy, Editora Cortez.
2 – “Ecologia: Grito da Terra – Grito dos Pobres”, de Leonardo Boff, Editora Vozes.
3 – “Enfrentando o Antropoceno: capitalismo fóssil e a crise do sistema terrestre”, de Ian Angus, Editora Boitempo.