O clubismo não respeita a Morte. Dá nojo

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Códigos sociais milenares são desrespeitados em nome do amor ao clube

Por Menon, compartilhado de Fórum




Multidão comparece ao velório de Juan Izquierdo. Créditos: Reprodução Referi

Há duas coisas sobre a Morte. Ela chega em um dia qualquer, cuja única diferença para os outros é que termina antes, dura menos. Para o morto. Para os que ficam, é terrível a chegada do entendimento de que aquele vazio nunca será preenchido.

A segunda característica é que ela traz consigo um rito de consternação e respeito. Para quem gostava dele, o morto vira um santo. E quem não gostava, se cala. Não fala nada. Respeita a passagem. Afinal, hã pessoas chorando e sofrendo.

Essa atitude de respeito, de prostração, está sendo desrespeitada no mundo do futebol. Em nome do clubismo, um traço civilizatório é esquecido.

Já houve quem simulasse, na arquibancada, a queda de um avião, para provocar os torcedores da Chapecoense. Já houve quem simulasse um mergulho para lembrar aos torcedores gaúchos a tragédia humanitária que levou tantos irmãos.

Irmãos? 

Imagina! 

Torcem – supremo pecado – para outro time. É meu inimigo. É mais fácil matá-lo do que respeitar a sua dor. Sua dor, que deveria ser nossa.

Agora, foi o caso de Juan Izquierdo, jogador uruguaio que teve uma arritmia cardíaca no jogo contra o São Paulo há uma semana e morreu dias depois, no Albert Einstein.

A Internet, pântano que deu voz a desalmados e idiotas, não respeitou. Torcedores de Flamengo e Galo lembraram o caso Serginho – que morreu em 2004 no Morumbi – para ironizar o estádio. Cuidado, que ali você morre. Teve um outro que se vingou das críticas ao gramado do Allianz Park para buscar comparação mórbida.

“Vitamina” Sanchez, ex-jogador do Rosário Central, impressionado com o tamanho do estádio ou com a força da torcida, não sei bem o motivo, cunhou a frase “O Morumbi te mata”. Imagina se ela não foi utilizada para um trocadilho tétrico 

O minuto de silêncio em homenagem a Izquierdo não foi respeitado pela torcida do Galo, que cantou alegremente. O rito do respeito foi jogado às favas. Afinal, quem morreu? Não é do meu time.

Meu time.

Que funesto pertencimento é esse, que passa por cima do respeito ao morto? Respeito que deveria marcar a diferença entre seres humanos e animais.

Deveria.

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